Trago uma situação muito corrente no jornalismo local, especialmente reiterado na dita reportagem de serviços e radiofônica. Proponho um exercício de reflexão. Por exemplo, uma determinada obra será feita em um dos vários bairros das cidades gaúchas carentes de saneamento básico. O repórter, em geral meio foca e ainda estagiário, afirma na maior das inocências.
“O saneamento vai chegar na Vila Desconhecida. O investimento vai ser de R$20 milhões (hipotéticos). Segundo o Ministério das Cidades, os recursos já estão liberados. Só falta a prefeitura local concluir a licitação.”
No meio desse comum e justamente ansiado fato jornalístico, pode estar escondido um baita fato político. A pergunta que falta é: Quanto custa o conjunto da obra? Isso porque, se o custo for de R$40 milhões, então só virá a metade do recurso. Logo, a pergunta subseqüente é: Quando começa a segunda parte? Mas, se a obra tiver um custo real de R$10 milhões, aí é venda de jornal e recorde de audiência, porque deu “editoria de escândalos”. Ou seja, já começando de forma superfaturada, então é certo que os outros R$10 milhões vão desaparecer.
Mas, como se sabe e não se faz mais, jornalismo é tumulto, porque a nossa sociedade é conflituosa. Se a mídia não está vigilante, porque faz parte do modus vivendi. É quando tudo pode ser questionado, desde que se façam perguntas superficiais.
Com esse padrão de comportamento, quem precisa de censura?
Nota originalmente publicada na página de comunicação e política de Claudemir Pereira