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Wikileaks e a guerra de 4ª geração

wikileaksbrasil.org

Após o país ser vitrine com o vazamento de correspondência diplomática do Império avaliando as elites dirigentes nacionais, os brasileiros têm a chance de participar dessa empreitada pela liberdade de informação, e não de empresa, na internet.

16 de dezembro de 2010, da Vila Setembrina de lanceiros negros ludibriados por escravagistas latifundiários, do Continente de José Artigas, El Gran Traicionado, Bruno Lima Rocha

Julian Assange é o nome do momento e a perseguição pela qual sofre retrata a relevância do personagem. O australiano veio ganhando escala mundial por seu trabalho pioneiro como representante público de uma equipe dedicada a difundir documentos classificados (reservados, confidenciais ou secretos), agindo, segundo as próprias palavras do Wikileaks em seu editorial (ver espelho original) em nome da “transparência e da prestação de contas”. Conceitualmente, Assange e os demais membros do portal estão em guerra de 4ª geração, operando – de fato – contra Estados potência e empresas transnacionais. E eles não estão sós no front.

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Tampouco a modalidade de conflito é exclusiva dos países desenvolvidos. A primeira vez que escutei o termo foi quando estive na Venezuela (janeiro de 2009), em companhia de ativistas midiáticos e militantes da comunicação popular. Estes homens e mulheres, voluntários em sua maioria, praticam a partir da internet e de emissoras de rádio FM de baixa potência, dois contrapontos simultâneos. Seus alvos permanentes são a chamada mídia escuálida (termo popular para definir os venezuelanos de origem européia) assim como a direita endógena (políticos oligarcas convertidos ao chavismo). Embates semelhantes ocorrem pelo mundo. O cenário desta guerra varia a cada território, questão em voga ou nicho de interesse. O que há de perene são as diretrizes (informais) de buscar aumentar o poder da cidadania e a capacidade decisória de indivíduos e coletividades diante dos agentes com poderes de incidir sobre a vida do planeta, como os EUA e o complexo industrial, militar e petrolífero, por exemplo. Nesta luta, a rede mundial de computadores é fundamental.

Definitivamente, estamos diante de uma quebra de paradigma para o significado da internet em nossas vidas. O modus operandi do Wikileaks e de seus assemelhados, vem ultrapassando as fronteiras do jornalismo formal (em seu modelo empresarial) e indo além do legalismo na defesa do direito à informação. A tese levantada é simples. A cidadania necessita de ter informações precisas e fidedignas para poder decidir. Uma vez que hoje somos todos influenciados por decisões tomadas por Estados do centro do capitalismo, a começar pelos EUA (única superpotência bélica em escala planetária) e empresas transnacionais, é necessário saber o que se passa nestes lócus de poder, e também o que pensam e fazem os membros destas as elites dirigentes

A internet há muito deixou de ser uma atividade de ócio para tornar-se uma das artérias centrais da globalização corporativa (também chamada de mundialização). Explico. Se a informação é central para o processo decisório e a decisão em áreas sensíveis passa por assegurar a defesa de dados, informes, relatos, impressões, pareceres, relatórios e documentos oficiais, portanto, para governar é fundamental manter segredo e dissimular versões. Esta necessidade entra em rota de colisão com os valores atribuídos a toda e qualquer forma de democracia, como a transparência nas ações tomadas por detentores de mandatos ou no exercício de autoridade em nome do bem comum.

O interessante é notar a fragilidade da defesa de informações por parte da superpotência. Não vejo como válida a hipótese de que a equipe do Wikileaks (tanto fixos como voluntários) tenha condições de operar como agência de espionagem. Portanto, se os documentos sensíveis vazam, é porque foram vazados. Assim, em alguma etapa da hierarquia e do fluxo informacional, alguns estão vazando os conteúdos secretos que dizem respeito à vida de milhões. Uma vez checada a informação (e até onde se sabe a rede do Wikileaks faz a checagem), não há nenhuma razão (legal ou moral) para não difundi-los.

A prisão de Assange e o acionar da parafernália da Interpol em sua captura dão mostras tanto do temor destas instituições como da “letalidade” do risco permanente do vazamento de informações de modo a possibilitar a produção de novos consensos a respeito de temas relevantes para as maiorias. A guerra de 4ª geração está apenas começando.


Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat






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