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A ocupação da Rocinha e as agendas simultâneas


O Estado se fez soberano na comunidade da Rocinha sem qualquer confronto com traficantes. Cabe a ele, agora e enquanto existir, garantir os direitos constitucionais dos moradores e coibir a ação das milícias dentro da segurança pública.

26 de novembro, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha

A ocupação das comunidades da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu por unidades leais das forças de segurança do estado do Rio de Janeiro, com apoio de blindados da Marinha do Brasil, representa muito mais do que a retomada territorial do Estado em áreas de ocupação irregular.

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Para além do factual difundido, está em jogo uma agenda política até há pouco abalada pelo exílio temporário do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e as ilações de cumplicidade e tolerância do governo estadual (este e os anteriores) para com a expansão do para-militarismo.

Quando os batalhões de Choque e de Operações Especiais encabeçam a tomada dos morros sob antecedidos de investigação da Polícia Federal, a ação ganha múltiplos significados.

Do ponto de vista do controle territorial, implica que o Estado exerce sua soberania em lugares que fisicamente estavam parcial ou totalmente abandonados há quase três décadas.

Programas anteriores, como as políticas do primeiro governo de Leonel Brizola (1983-1986) e os do ex-prefeito Luiz Paulo Conde (o Favela-bairro), não concluíram a instalação dos aparelhos e serviços públicos proporcionados pelo poder oficial nesta região.

Outro aspecto relevante é um esforço do governo do ex-tucano e aliado de Lula, Sérgio Cabral Filho(PMDB), de provar que a política das UPPs tem como meta atingir a todas as facções de redes de quadrilha.

Na maior parte das ações anteriores, as áreas retomadas estavam sob controle do Comando Vermelho (CV) e suas ramificações, não sendo atingidas comunidades controladas pelo Terceiro Comando (TC) e os Amigos dos Amigos (ADA).

Tampouco esta política de segurança atingira interesses de grupos de milícias. Desta vez as autoridades eleitas na cidade e no estado intentam demonstrar para o mundo que o Rio se habilita a receber grandes eventos internacionais sem fazer uma aliança tática com o crime organizado. Resta saber se a aparência espelhará a essência desta relação pouco ou nada republicana.

Hoje paga-se o preço do descaso. No vazio da autoridade, somada às formas de sobrevivência dos moradores mescladas com a economia varejista do tráfico fizeram do Grande Rio uma metrópole com poder paralelo nascido nas entranhas da repressão.

Jamais haveria a possibilidade do crescimento das redes de quadrilha sem o amparo da malha de corrupção policial. Ocupar favelas é a parte simples da tarefa; mais complexo será garantir os direitos constitucionais destes moradores e desentranhar as milícias de dentro da PM e da Polícia Civil.

Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat.






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