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ISSN 0033-1983
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Todos os “arenistas” do presidente que nunca foi de esquerda!
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A volta de Fernando, o roxo que fora absolvido pelo Supremo. Collor é parte da base de apoio do ex-inimigo do governo de João, um brasileiro, Figueiredo. A ARENA deita e rola sob as bênçãos de Luiz Inácio.
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Bruno Lima Rocha, 29 de abril de 2009, do Rio Grande de São Sepé
No último dia 30 de março, as centrais sindicais mais à esquerda, incluindo a central oficial, a CUT (Central Única dos Trabalhadores), fizeram atos em defesa do emprego e contra a crise econômica. A jornada de luta era para arrancar o 1º de abril, fazendo alusão ao Golpe de 1964, que completou 45 anos de triste memória. No entanto a burocracia cutista jogou para outra data, para impedir a memória e confundir à militância brasileira. É justo por essa memória, pela verdade e a justiça, que a data foi adiada. Porque poderia ficar demonstrado que o governo comandado por um ex-dirigente sindical, faz a todos os brasileiros esquecer, não só o passado recente senão também o presente vergonhoso. Podemos apontar, dentre várias, duas causas fundamentais para isso. enviar imprimir A primeira é que na arena da memória, a verdade e a justiça, o governo de Luiz Inácio Lula dá Silva faz todo o esforço possível para impedir a abertura dos arquivos das forças armadas a respeito da repressão política e do período da ditadura. Por incrível que pareça, o governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) agitou mais esta casa de vespas que o mandato de Lula.
A segunda é a notória presença de arenistas, ex-membros da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), o partido oficial de apoio à ditadura militar no atual governo. Lula, além de ter um líder empresarial como vice-presidente (José Alencar) e tucanos serristas de toda a vida (que dão suporte ao governador de São Paulo, José Serra, PSDB) em seu governo, como o ministro da Defesa Nelson Jobim, o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) Ronaldo Sardenberg e o mais conhecido deles, Henrique Meirelles, presidente do Banco Central do Brasil (Bacen). Desde o 1º de janeiro de 2003. Mr. Meirelles é reconhecido no mundo como alto executivo do Bank of America, ex-presidente mundial do BankBoston, além de ser acusado de crime eleitoral e de fortuna sem origem, e, como complemento de tão “nobre” trajetória, foi deputado federal eleito pelo PSDB (GO, eleição de 2002).
Voltando ao caso dos Arenistas, sua proporção e seu peso relativos são enormes. De 43 órgãos executivos de primeiro nível, dentre ministérios, secretarias especiais, gabinetes, Advocacia Geral da União (AGU), Controladoria Geral da União (CGU), Casa Civil e vice-presidência, a ARENA tem 8. Ou seja, a proporção é que a cada 6 ministros, 1 deles participou dos governos da ditadura. Essa extração da oligarquia brasileira convive pacificamente com ex-guerrilheiros hoje ministros, como Dilma Roussef (ex-VAR-Palmares e titular da Casa Civil, após a queda de José Dirceu) e Franklin Martins (ex-MR 8, colunista da Organização Balão por décadas, ministro da Secretaria de Comunicação Social), sem falar no mais poderoso lobista do país, o ex-guerrilheiro e deputado federal caçado José Dirceu, premiê de Lula até a crise política de 2005.
Resumamos a ficha corrida dos Arenistas de Lula no primeiro nível:
José Múcio Monteiro (de Pernambuco), o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, com passado no antigo PDS, depois no PFL e PSDB, “migrando” para um partido da base aliada, o PTB, no primeiro ano de governo de Lula. Além de ministro da pasta é deputado federal pela lenda de Roberto Jefferson e do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Jorge Hage (da Bahia), o ministro chefe da Controladoria Geral da União (CGU) escondeu em seu currículo que foi prefeito de Salvador pela ARENA (1975-1977), quando durante a AI-5, os prefeitos de capitais e áreas de segurança nacional eram nomeados pela ditadura. Após passar um período apoiando os militares, teve passagem pelo PSDB e o PDT, feito este que esconde até em seu orgulhoso currículo de jurista e professor universitário.
Alfredo Nascimento (do Amazonas) ministro dos Transportes tem formação militar, como sargento especialista da Força Aérea, onde ingressou em 1972, em pleno AI-5. Está licenciado do cargo de senador pelo PR (Partido da República) do Amazonas. Coleciona acusações de crimes eleitorais e de improbidade administrativa.
Edison Lobão (do Maranhão), ministro das Minas e Energia, senador licenciado do cargo pelo PMDB de José Sarney. Lobão foi da ARENA, assessorou ministérios durante a ditadura, tendo sido após deputado federal pela ARENA, PDS e após ingressou no PFL. Lobão chegou a ser eleito senador maranhense pelos Democratas, mas atendeu às conveniências e negociações vindas de seu estado, migrando assim para o PMDB em 2008.
Hélio Costa (das Minas Gerais), ministro das Comunicações, sempre concorreu pelo PMDB, mas tem trajetória anterior. Além de ser ex-funcionário da Rede Globo e dono de emissora de rádio, Costa trabalhou para a Voice of America (Voz da América) em plena ditadura militar, período das chamadas Fronteiras Ideológicas. Depois na seqüência, implantou o Balão nos EUA. Ajudou assim, diretamente, os interesses yankees e no apoio de Washington aos regimes militares.
Márcio Fortes (do Rio de Janeiro), ministro das Cidades, é homem do PP de Paulo Salim Maluf e teve carreira como tecnocrata a serviço de ministérios militares. Por exemplo, ele escrevia parte das mensagens presidenciais ao Congresso Nacional durante os anos de 1967 e 1969, justo quando os militares fecharam o Legislativo. Fortes trabalhou durante todo o Governo Médici (o mais sangrento da ditadura) como Chefe do Gabinete do então Ministro da Indústria e Comércio Pratini de Moraes, latifundiário gaúcho (rio-grandense) até hoje o ativo.
Geddel Vieira Lima (da Bahia), ministro da Integração Nacional, homem com passado na ARENA baiana, chamado carlista genérico. É um mais que esconde seu passado no PDS (a sigla partidária que sucedeu à ARENA), quando operou como presidente do Banco do Estado da Bahia (Baneb) no governo de João Durval Carneiro, homem de confiança de Antônio Carlos Magalhães. Antes atuou como dublê de “aspone” de políticos profissionais que apoiavam o regime militar, entre 1979 e 1981.
Reinhold Stephanes (de Paraná), ministro da Agricultura e do Latifúndio, está no PMDB como a maioria dos arenistas travestidos. Tem em seu currículo o cargo de deputado federal tanto pela AREIA como posteriormente pelo PDS. Foi ministro da Providência tanto no governo do presidente cassado Fernando Collor e como acrobata político, retornou à areia nos 8 anos de Fernando Henrique Cardoso.
Além destes, ainda conta o governo do ex-sindicalista Lula com os caciques políticos no Congresso e com maioria no Supremo (STF). Vamos ver aqui estas bases políticas.
Gilmar Mendes (de Mato Grosso), o atual presidente do STF, tem passado como promotor da república e foi alçado à cena política pelas mãos de Collor. O equilibrista trabalhou tanto na Presidência da República na era Collor (de 1990 a 1992), como foi assessor jurídico da revisão constituinte, além de ocupar cargos no governo FHC, como o de Advogado Geral da União (na AGU). Foi o próprio Fernando Henrique quem o indicou para o Supremo em 2002, chegando a presidente da Suprema Corte país em abril de 2008.
José Sarney (de Maranhão e Amapá), o senador pelo estado do Amapá, agora no PMDB, já foi governador do Maranhão e presidente da república, quando assumiu no lugar do finado Tancredo Neves. Sarney era o homem do PFL, fratura do PDS para compor a então chamada Aliança Democrática. Seu governo durou 5 anos passando a bengala para outro arenista. Caracteriza-se por ser o craque da politicagem, dominando como ninguém os esquemas e negociações político-empresariais, tanto em Brasília como nos currais eleitorais.
Fernando Collor de Mello (de Alagoas), senador pelo PTB, o ex-presidente cassado e depois julgado “inocente” pelo Supremo é da base de apoio de Lula. O ex-arenista foi o candidato da Rede Globo e dos capitais multinacionais quando correu contra o próprio Lula em 1989. Derrotou-o por pequena margem de votos, em um segundo turno mais que suspeito. Representa o pior da política brasileira, juntamente com seu fiel amigo, Renan Calheiros.
Renan Calheiros (de Alagoas), senador pelo PMDB, já fez e foi de tudo na vida política, talvez falte apenas ser um tribuno respeitável. É bom recordar que Renan, dentre outras façanhas, além de pagar pensão para seu ex-amante com dinheiro de empresas de construção civil, foi ministro da Justiça de FHC, acumulando um histórico de escândalos e negociatas políticas de grande envergadura – como na Gestão Chelotti à frente da PF. É outro que joga o jogo de Sarney, apoiando Lula e tirando benefícios para causa própria.
Romero Jucá (de Roraima), o senador pelo PMDB de Roraima, atual líder do governo Lula em Senado presidido por seu cacique político José Sarney, tem trajetória no PFL antes passando pela ARENA. Equilibrista, Jucá foi líder interino de FHC, no final de seu governo, quando então ainda era do PSDB.
Roseana Sarney (do Maranhão), a filha de José Sarney foi líder do governo no Congresso até faz pouco. Uma transação com o Supremo Tribunal Eleitoral (STE) sacou o governador – acusado de corrupção Jackson Lago (PDT) do governo do Maranhão - e passou o poder para a filha do político mais poderoso do Brasil. Lula prometeu uma refinaria de Petrobrás nesse estado. A troca vai ser o apoio eleitoral em 2010. Até assumir o poder estadual sem ganhar a eleição, Roseana foi a senadora pelo PMDB maranhense, mas tem toda sua trajetória ligada ao PFL, antes ao PDS e na própria ARENA. Roseana quase foi candidata ao cargo que pertence a Lula, quando no início da corrida presidencial de 2002 a empresa de seu marido foi alvo de uma operação da Polícia Federal – articulada por José Serra, então candidato a candidato pelo partido PSDB, de FHC – e que terminou apreendendo mais de R$ 1 milhão e 300 mil reais em dinheiro vivo e sem procedência. O fato policial ficou como um contumaz fato político, uma vez a caixa 2, de dinheiro de origem não declarada, recursos que poderiam alimentar sua campanha política. O dinheiro exposto em cima da mesa foi a lápide da campanha moribunda. Com a derrota pontual, Roseana liberou a área e o então PFL (hoje Democratas) não apresentou candidato.
Romeu Tuma (de São Paulo), senador atualmente no PTB-SP, é base de apoio ao governo Lula em Senado. Ingressou na Polícia Civil de São Paulo em 1951 como investigador de polícia, passando a comissário em 1967. Tuma foi um dos policiais com maior atuação no combate à guerrilha, trabalhando na repressão política e social desde 1957. Como prêmio, o transferem para a Polícia Federal, Superintendência de São Paulo, em 1983. Esconde o passado de repressor do currículo. Curiosidade macabra, Tuma chegou a prender o próprio Lula quando este era dirigente sindical.
Antônio Delfim Netto (de São Paulo), concluiu sua carreira política pelo PMDB, mas tem toda sua trajetória vinculada aos partidos de sustentação da ditadura (ARENA e PDS). Exerce a função – informal – de “conselheiro econômico” de Lula. Delfim foi ministro da Fazenda de Costa e Silva e Médici, e com Figueiredo foi ministro do Planejamento e depois da Agricultura. É autor, dentre outras pérolas de triste memória, da frase “aumentar o bolo para depois repartir” e da hiper desvalorização do cruzeiro (então a moeda nacional) em 1983. Com essa medida, o braço econômico da tortura enterrou o “Milagre Brasileiro” o qual foi um dos inventores ao custo de dívida externa e crimes de lesa humanidade.
Conclusão
Esperamos que, após a análise descritiva dessa equipe de notório saber no fisiologismo planaltino tupiniquim, nenhum outro militante bem intencionado repita alguma idéia absurda de que “o governo está em disputa”. Também rogamos que tampouco seja proferida alguma noção absurda de que vive-se “uma guerra de posições com leitura gramsciana”. Não é este o caso. Este governo é de direita, usa e abusa do carisma de um personagem de tipo populista (o presidente), mas sabe como ninguém os caminhos da polititica brasileira. O pacto político brasileiro garante a estabilidade do mandatário, para que sejam respeitadas as bases do poder real. Uma é o capital financeiro e a opção preferencial pelos bancos. Outra é a manutenção do sistema de privilégios servindo como manto de fundo para a tal “governabilidade”. A base de apoio deste governo, sustentando-se tanto na especulação e agiotagem, sob o manto sagrado do Copom, como em parte da elite política mais podre desse país.
Lula sabe o que faz. Certa vez afirmou em alto e bom tom: “Eu nunca fui de esquerda”. É a mais pura verdade, nunca foi!
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