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Ted Cruz e a guinada à direita para os latino-americanos


Ted Cruz é contra os imigrantes, contra os direitos reprodutivos, a presença do Estado na economia, a favor do comércio indiscriminado de armas de fogo, pela redução de impostos e a preservação da riqueza individual.

07 de julho de 2015, Bruno Lima Rocha

Os Estados Unidos são um país multicultural, pluriétnico e com uma perigosa sobreposição da questão social (divisão da sociedade em classes) com a segmentação étnico-racial, segundo definição oficial do governo central da superpotência. Embora não tenha passado de tímidas políticas keynesianas, a administração de Barack Obama (democrata), eleito em 2008 e reeleito em 2012, marcou o início de uma possível era pós-racial nos Estados Unidos. Aparentemente, a Era pós-racial marcaria um momento na vida política e no ambiente doméstico da superpotência onde cada grupo étnico formaria sua elite relativa e formas de ascensão social. A reprodução das idéias mais à direita (dentro do espectro político dos EEUU) seria através dos milhões de gestores e proprietários de micro e pequenos negócios étnicos. O conceito tem falhas e incoerências, como afirmo abaixo.

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Os críticos a este conceito, os quais eu me somo, afirmam que os dois governos de Obama marcaram a presença das novas elites egressas das políticas de ação afirmativa dos anos ’70. Assim, os excluídos tiveram sua cota de “inclusão” sem acabar com a desigualdade dentro do país. O sonho americano segue sendo uma rotina de trabalho sem fim e vida em guetos menos racistas, mas com diminutas possibilidades de mobilidade social. O que mudou foi o perfil da população mais atingida pelo racismo estrutural.

 

Ao contrário dos anos ’80, hoje, a base da pirâmide social dentro dos EUA fala castelhano e soma mais de 54 milhões de latino-americanos, incluindo os brasileiros lá residindo. O avanço do contingente populacional é inversamente proporcional à pobreza – relativa – que atravessa estas comunidades. Os piores empregos somados com os maiores índices de imigração ilegal fazem com que as comunidades “hispânicas” sejam um alvo em potencial tanto para políticas públicas ineficazes como de discursos reacionários e de base racista com tradição imperial. O problema, de um ponto de vista latino-americano, é pensar que tais cidadãos estadunidenses – fora os milhões de ilegais ou ainda irregulares – estão justamente fugindo da pobreza endêmica e da violência nos países de origem. Logo, a escassez relativa vivida na América do Norte é vista com bons olhos se comparado com as sociedades latino-americanas após as duas décadas perdidas e o esfacelamento societário sofrido por mexicanos e centro-americanos em particular.

 

Uma manobra da direita – e da extrema direita – política operando dentro da superpotência é abrir cunhas conservadoras em comunidades latino-americanas. O bastião destas continuam sendo os grupos de gusanos, coletividades de cubanos emigrados após a revolução de 1959 e hoje em pé de guerra contra o governo Obama pelo reatamento das relações diplomáticas com a ilha sob o governo de Raúl Castro. Nas eleições presidenciais de 2000, os votos cubano-americanos foram decisivos na contagem – mesmo que fraudulenta – do colégio eleitoral da Florida (governada por Jeb Bush, irmão de George Bush Jr.), dando a vitória aos republicanos. Agora, na corrida pré-eleitoral de 2016, alguns candidatos republicanos despontam mais à direita, dentre eles um senador pelo Texas a somar o pior das tradições políticas latino-americanas e estadunidenses.

 

Ted Cruz (Rafael Edward Cruz) é senador republicano pelo Texas em primeiro mandato e um dos pré-candidatos à Casa Branca. Cruz é um dos três “hispânicos” a ocupar uma vaga no Senado, sendo que os demais também têm origem cubana. Não é um dos favoritos pelo partido de Reagan e Kissinger, mas tem um significado acima de seu capital político. Este advogado de carreira é totalmente alinhado com a extrema-direita republicana, identificada no Tea Party e também em grupos de pressão como o Republican Liberty Caucus, a representação formal do pensamento neoliberal radical dentre os republicanos. Cruz é contra os imigrantes, contra os direitos reprodutivos, a presença do Estado na economia (logo contra os planos de saúde pública e políticas de assistência), a favor do comércio indiscriminado de armas de fogo, pela redução de impostos e a preservação da riqueza individual e em política externa tem uma posição semi-isolacionista, mas de intervenção na América Latina.

 

Mesmo que não passe de pré-candidato, a presença de Cruz na disputa interna dos republicanos já sinaliza uma possível e perigosa guinada à direita da propaganda política sobre a massa de latino-americanos. A probabilidade de Cruz perder na interna republicana não isenta o tamanho do problema ideológico que esta direita mais à direita dentro do Império pode gerar. As comunidades latino-americanas dentro do ambiente doméstico da superpotência têm importantes referenciais políticos em movimentos à esquerda e são alvos de perseguição sistemática das forças repressivas que recrudesceram após o Ato Patriótico e o estabelecimento do Departamento de Segurança Interna (DHS). O legado ideológico de gusanos como Cruz em escala nacional pode ser difícil de curar no curto prazo. Se a imagem de um tímido keynesiano como Obama já causa estragos ideológicos, imaginemos um neoliberal radical como Ted Cruz.






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