Depois de uma campanha de muitas variações nos embates políticos e prognósticos confusos quanto ao vencedor da eleição presidencial do México, o candidato pró-imperialista venceu com uma vantagem de menos de 1% o oponente mais à esquerda, Andrés Manuel Lopez Obrador. O vencedor é o ex-ministro de Vicente Fox, maldosamente chamado por Obrador de “o cachorrinho do império”, Felipe Calderón. O homem do Partido da Ação Nacional (PAN) deve dar continuidade às ações de governo que atendem às distintas oligarquias da interna mexicana e asseguram a dependência externa com os Estados Unidos. O segundo maior Estado da América Latina, conforma com os EUA e o Canadá o NAFTA. Este acordo é responsável por, dentre outros feitos, o aumento da imigração massiva para o oeste tomado pelos yankees e a barbárie das empresas maquiladoras na “nova fronteira”.
Lopez Obrador afirmou uma plataforma distributivista, bradando o lema “Primeiro os pobres”. Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), conquistou forte apoio dos segmentos mais pobres do eleitorado mexicano, e vem atentando para convocatórias de tipo popular, contestando o próprio resultado das urnas. Já o candidato do PAN, legenda e consórcio político representante do NAFTA, manteve sua base eleitoral, a mais moderna elite econômica mexicana e os tradicionais cabrestos de tipo Priista. O mercado financeiro mexicano teve calafrios quando soube que Obrador poderia ganhar as eleições. Isto porque o Perredista, ameaçou em destruir os privilégios assegurados desde as últimas duas décadas de governo do PRI, partido que governou a segunda maior nação latina por 71 anos, até a vitória de Vicente Fox em 2000.
A bolsa de valores mexicana despencou com os primeiros resultados de uma suposta vitória da Aliança para o Bem de Todos, frente eleitoral do PRD. A conseqüência disso foi uma campanha difamatória do alto empresariado daquele país contra o candidato de esquerda, com slogans buscando associar Obrador ao presidente venezuelano Hugo Chávez. Como se vê, os métodos e as disputas se repetem por toda latino-américa, sem nenhuma originalidade, seja na Bolívia, no Peru e agora no México. Ainda nas ameaças pré-campanhas, a direita afirmou que Obrador tomaria as terras da classe média, propositadamente confundindo a população com a discussão da retomada das terras comunales.
Outra manobra da situação foi a de ameaçar a fuga de investimento interno e externo caso fosse derrotada. Um claro exemplo disso aconteceu no jogo México e Angola, pela Copa do Mundo, no qual um cartaz foi mostrado pela televisão mexicana na área vip do estádio, onde o ingresso custa a bagatela de dois mil euros, com os dizeres: “Se ganha el peje (alusão a Lopez Obrador) aqui (na Alemanha) ficaremos”.
Desse modo, entre ameaças, urnas possivelmente fraudadas, evasões de capital e calúnias, o México assistiu mais um episódio de sua própria tragédia nacional. Outrora gloriosa nação e sede de dois Impérios, a terra de Magón, Orosco, Rivera, Villa e Zapata, assiste pasmo a política de terra arrasada de seu modo de vida tradicional e comunitarista. Um exemplo disso, é a possibilidade de acordo de tarifa zero na importação de feijão e milho americanos. Outra possível medida do governo Calderón será a privatização definitiva da PEMEX, a gigante mexicana de petróleo, principal operadora nas Águas do Golfo e exportadora para os EUA. Assim, existe esperança para os aztecas?
Na ponta esquerda do jogo, aos 40 do segundo tempo, ressurge um outro guarda-chuva de protagonistas. O Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) e seu líder, o subcomandante Marcos, também foram personagens importantes das eleições. No dia da votação, o movimento oriundo de Chiapas tomou as ruas da Cidade do México pedindo que a população se abstivesse, não exercendo o voto, pois considerava que não existia diferença de fundo entre os candidatos. Não por acaso, essa manifestação não foi difundida pela mídia mexicana, para não provocar perturbações no andamento das eleições. A campanha dos zapatistas, denominada de “Outra Campanha”, tem como fundo o exercício de um outro direito que consta da tradição constitucional mexicana. Este é o direito a rebelião contra um mau governo. Voltando ao protagonismo político e por fora das regras formais do jogo, o EZLN pode galvanizar um sentimento oriundo de um México profundo, cuja luta já ultrapassa 500 anos.
Nota redigida por João Vitor Cassela Novoa
Revisão e edição, Bruno Lima Rocha