Ontem, segundo suas próprias contas, Romário atingiu os 1000 gols. Sinceramente, não há como ser ranzinza e mal humorado em se tratando do Baixinho da Vila da Penha. Mas, infelizmente, Romário é só mais uma daquelas exceções que contrariam as estatísticas.
Caminha junto da regra essa, a ausência de memória como ferramenta de construção de um próprio povo. Mesmo no futebol. Na comemoração, todos se esquecem de que Eurico Miranda é manda chuva no C.R. Vasco da Gama. Todos esquecem também, de que antes de Pelé, aquele que pronunciou o discurso de proselitismo em pleno ano de 1969 (se lembram do AI-5?!), outro brasileiro de origem humilde e afro-descendente atingira 1000 gols ou mais, muito mais.
Seu nome até faz parecer aos incautos que se trata de um dos muitos imigrantes do inicio do século XX. Nas primeiras décadas do futebol no país, antecedendo ao Fausto, A Maravilha Negra; e a Leônidas “Diamante Negro” da Silva, reinava absoluto no ataque do aristocrático Clube Atlético Paulistano, dentre outros, o brasileiro Arthur Friedenreich. Filho de um comerciante alemão com uma lavadeira, mulher negra brasileira, foi o craque do Brasil quando sua pele era causa de vergonha para as diretorias dos ainda clubes amadores.
Em um momento histórico como o de ontem em São Januário, era a oportunidade de recordar e traze para a imaginação dos brasileiros ao craque da época do amadorismo. Antes de Édson Arantes do Nascimento e Romário de Souza Farias, Arthur Friedenreich passou dos 1000 gols.
Pobre do país que perde sua memória até na maior das paixões nacionais.