Bruno Lima Rocha, 12 de março de 2015
Na semana do 15 de março, a direita que não ganhou nas urnas vai tentar emparedar a aliança vitoriosa no segundo turno de 2014. Me parece um fato inegável que o 2o governo Dilma, ao menos em seu começo, se apresenta cada vez mais indefensável para aqueles e aquelas que ainda se posicionam à esquerda na política. Existe a possibilidade de estarmos vendo um conflito entre grupos empresariais com interesses estratégicos no Estado (como as empreiteiras flagradas na Lava Jato) e reprodutores da dominação internacional, favorecendo - em última instância - a quebra do modelo de exploração do Pré-Sal, arvorando que o Brasil não pode ter política industrial e revisando o papel do governo central no desenvolvimento capitalista. No meio desse tiroteio, entendo que as esquerdas restantes - que não estão no governo - não devem e nem podem baixar a guarda nem diante da tentativa de aumento da transnacionalização do sistema produtivo brasileiro e tampouco defendendo o governo Dilma e a relação umbilical com o capital brasileiro e com a maldita lógica rentista, que consome cerca de 40% ano do orçamento da União para torrar na rolagem da dívida pública. Estamos sim sob ataque especulativo, mas isso não implica em alinhamento com a direita que está no Planalto e menos ainda com a UDN pós-moderna que convoca a ocupação das ruas no 15 de março.
Dando sequência na análise do tema que incendeia o país no auge do terceiro turno, e refletindo a respeito do momento político que o país vive, nos conta da simultaneidade dos tempos. Enquanto o capital transnacional mira no Pré-sal, a banca de especuladores quer penhorar ainda mais os recursos da 7a economia do mundo. Já a aposta aqui de quem joga para virar a mesa no terceiro turno é de que as vísceras do bismarckismo tropical não resistem à lupa do Ministério Público Federal. Sinceramente vejo que a UDN tem razão (dentro de sua intenção de tentar romper a continuidade do pleito), ainda mais porque sua caixa de ressonância é maior. Não houve a mesma sanha quando do propinoduto do metrô de SP e menos ainda na CPI do Banestado. Que sirva de lição aos arrependidos daquilo que não chegaram a ser. Tivessem liquidado com o legado anterior ao investigar a farra das privatizações e hoje estariam em um sistema político distinto. Mas como se dedicaram com afinco a tornarem se a versão latino-americana do PSOE (espanhol) acabou enredada como seus pares espanhóis. Os custos do governo de coalizão e de chamar a Arena para governar são muito elevados, literalmente.
Ainda na reflexão do momento que vivemos - em busca de uma análise à esquerda do governismo e bem longe da UDN pós-moderna
Entendo que a as Medidas Provisórias 663 e 664 formam o momento ideal para, em tese, travar a unidade sindical necessária no sentido de frear a política econômica que só beneficia os rentistas e entrega os recursos coletivos para a Banca. Mas, tal unidade sindical não é possível em função da falta de independência de classe das centrais governistas. Logo, aí cabe uma auto-crítica, por incapacidade da esquerda sindical (eleitoral ou não), não conseguimos o grau de unidade da força de trabalho para construir uma ferramenta reivindicável, como era a CUT (mesmo com todas as suas mazelas), nos anos '80.
Por outro lado, embora as centrais governistas, como CTB e a CUT, estejam na obrigação de lutarem por direitos fundamentais e a acertada bandeira da Convenção 158 da OIT (que na prática aumenta a estabilidade do emprego no setor privado), tudo soa como manobra diversionista, mais para atenuar o isolamento do 2o governo Dilma do que necessariamente se posicionar como organismo de defesa de classe, ou de classes assalariadas. O mesmo se dá, e aí com ainda maior tristeza, com o MST, Via Campesina e movimentos aliados. Infelizmente, a tese infeliz do governo em disputa continua.
Há disputa sim, mas entre o Agronegócio (representando pelo JBS-Friboi) e o latifúndio (representado por Kátia Abreu, ministra do Agro). Também há disputa - esta mais tênue - entre setores industriais e o capital financeiro, com o 2o governo Dilma atenuando a linha Bismarckista e fortalecendo a "opção preferencial pelos bancos e especuladores". Este país torou 45% do orçamento executado pela União em 2014 com a rolagem da eterna dívida pública. Ou seja, em termos materiais concretos, não há motivos para um golpe de 3o turno. Em termos ideológicos e de botim do capital transnacional, sim há. E, sendo este governo totalmente indefensável, é urgente uma aliança sindical-social de defesa dos direitos conquistados e ao menos garantia das políticas públicas estabelecidas. Março está sendo um mês bastante tenso, e, qualquer semelhança com o período anterior a agosto de 1954, não é nenhuma coincidência.
Análise final do país antes do ataque de nervos
Estamos diante de um período onde o imponderável pode atuar. E, como tal, atos políticos insignificantes como o "panelaço" de domingo pode ganhar um vulto superior ao fato em si. O problema do governo de coalizão por direita é que a direita que perdera nas urnas pode capitalizar mesmo na luta contra o arrocho e o pacotaço de Levy e cia. É uma condição inequívoca: os setores que não defenderem os interesses diretos atingidos pela meta de bater superávit a qualquer custo vão perder legitimidade (a que resta) e acabar por fortalecer a outra direita. A cancha está aberta.