Um dos fenômenos mais interessantes da bela campanha do Internacional na Libertadores foi a associação massiva. Não para o quadro de sócios patrimoniais, mas como sócio-torcedor. O interesse inicial é o de assistir aos jogos em um estádio que embora grande, perdera lugares em função da retirada da Coréia. Uma das clausulas desta associação prevê, após dois anos, a participação na vida política inerente aos destinos do clube. Pode parecer um detalhe, mas quando falamos de 40 mil pessoas que podem vir a participar de uma instituição que aglutina parte da identidade de milhões, isto não é pouca coisa.
Acompanhando esta nova forma de associativismo, mais assemelhada aos clubes europeus, especificamente ao perfil do Barcelona FC, veio uma forma de torcer distinta. Buscando a “desorganização” democrática, se desmilitariza a torcida, retira-se o interesse das “organizadas” e cresce o fenômeno antes surgido com a chamada alma castellana, ou simplesmente a Geral do Grêmio. Na resposta a esta bela forma de torcer, criou-se a Popular do Inter, onde todos pagam ingresso, encontram-se para torcerem juntos no mesmo lugar (atrás do gol à direita das cabines de rádio) e literalmente pulam e cantam durante toda a partida.
Conversando com gente que freqüenta a Popular e tem experiência como militante de base, estes me comentam algo que observo todos os jogos. “A Popular é uma escola de agitação de massas”. E é mesmo. Animada em seu miolo por pessoas mais à esquerda toma por referência um belo comportamento de incentivo e cobrança. Considerando que quase todos também são sócios (a mensalidade gira em torno de R$ 30,00 por mês e dá direito a ir em todos os jogos do clube), esta é uma porta de entrada para a democratização de um clube de massas pela própria massa agora associando-se.
Na outra ponta do tema, na verdade meio anel inferior do Beira Rio à direita do gol, está uma das conseqüências deste fenômeno. Leia-se, as “organizadas” estão minguando, e junto com isto a influência maléfica de chefes de torcida sobre seus membros e sobre estes operam nefastos dublês de políticos e cartolas. Quando deixam de receber ajuda de custo do clube e cessa o fluxo de entradas “grátis” (o que é uma falácia, pois alguém sempre paga), começa a perder a “função” no mundo da bola a presença desta forma de se “organizar para se divertir”.
A agora consagrada Popular do Inter, pouco a pouco, pode ser a materialização de um movimento de democracia na interna de uma das maiores instituições do Rio Grande. Detalhe, tamanho amor e paixão é toda voluntária. Em tempos de descrença e frieza, esse potencial de mudança na sociedade deve ser cultivado e fortalecido.