Estrat�gia & An�lise
ISSN 0033-1983
Principal

Artigos

Clássicos da Política Latino-Americana

Coluna Além das Quatro Linhas

Coluna de Rádio

Contenido en Castellano

Contos de ringues e punhos

Democracy Now! em Português

Democratização da Comunicação

Fale Conosco

LARI de Análise de Conjuntura Internacional

NIEG

Original Content in English

Pensamento Libertário

Publicações

Publicações em outros idiomas

Quem Somos

Sobre História

Sugestão de Sites

Teoria



Apoiar este Portal

Apoyar este Portal

Support this Website



Site Anterior




Creative Commons License



Busca



RSS

RSS in English

RSS en Castellano

FeedBurner

Receber as atualiza��es do Estrat�gia & An�lise na sua caixa de correio

Adicionar aos Favoritos

P�gina Inicial












































Artigos
Para jornais, revistas e outras mídias

Arqueologia de ideias: a ancestralidade recente do NIEG

economiasc

NIEG trabalha com as relações entre comunicação e capital financeiro. Em outras palavras, estuda a alma do capitalismo econômico e tudo aquilo que a grande mídia não se dará o trabalho de explicar ao cidadão comum.

29 de novembro, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha

Este texto é um ensaio a respeito de uma ancestralidade recente, a criação de uma fonte de crítica teórica e ativismo político, indo de encontro à hegemonia do capital financeiro dentro do pensamento econômico vinculado ao status quo. A história é relativamente simples. Em março do corrente ano, o Grupo Cepos me delegou a tarefa de construir uma proposta ousada, germinada em Seminário Internacional que realizamos com o Grupo coirmão Tecmerín, localizado na Universidade Carlos III, no campus de Getafe, Comuna de Madri (Espanha) em janeiro último. Na ocasião, ao ser questionado a que tema me dedicava como pesquisador, afirmei que gostaria de analisar as relações cruzadas entre mídia hegemônica (corporate media) e a financeirização da economia capitalista, reproduzindo a naturalização do capital na sua forma de bem simbólico. Três meses depois e a ideia que surgira por evidências empíricas e urgências teóricas e políticas toma a forma de um Núcleo de Estudos dentro de um consagrado grupo de pesquisa.

enviar
imprimir

A origem dessa preocupação localiza-se na relação propagandista que os grupos de mídia do Rio Grande do Sul tiveram ao dar suporte ao contrato de empréstimo que o estado fizera junto ao Grupo Banco Mundial. Naquele momento, corria o mês de novembro de 2007 e publiquei um artigo de opinião afirmando o absurdo do alargue da dívida interna, entre dois níveis de governo (União e RS), servir de cabeça de ponte para a internacionalização de tal endividamento e a perda da soberania do governo estadual sobre os fundos captados mediante taxação impositiva. Para minha alegria, deparei-me com outro cidadão – este sim um especialista na matéria – empunhando a lança da razão contra os moinhos do silêncio midiático. Trata-se do fiscal de tributos aposentado, João Pedro Casarotto, hoje um dos maiores especialistas em dívida interna do Brasil e à época um paladino quase solitário.

O dirigente sindical do fisco fez uma representação explicando todos os motivos e razões para ser adverso ao contrato e enviou o estudo para órgãos de Estado e veículos de comunicação. Dos primeiros, não recebera resposta e da indústria da mídia, o retorno foi o silêncio. Após esse episódio, verifiquei um padrão quando o tema em pauta é o capital financeiro. Os poderes constituídos legalmente não debatem a fundo o modelo de endividamento e as empresas de comunicação silenciam, desinformam e desviam quanto as mais simples relações causais por onde os recursos oriundos da materialidade produtiva simplesmente se tornam rarefeitos, passando a existir apenas como dígitos ou certificados de compromisso (como nos títulos da dívida pública). Estudar essas relações implícitas, mas evidentes para especialistas, transformou a indignação em vontade de fazer ciência social comprometida, dentro e fora da academia.

O projeto de nuclear a pesquisa em torno do problema central do capitalismo contemporâneo (reconfigurado pela tecnociência e subordinado aos controladores do capital financeiro outrora fictício) veio ao encontro de um objeto maior do que o escandaloso volume do endividamento brasileiro. Enquanto o orçamento consolidado do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal - SIAFI aponta que o orçamento da União, em 2010, teve o total de 1,414 trilhão de reais, o volume de recursos gastos na rolagem e amortização da dívida foi de 44,93%, equivalentes a 635 bilhões de reais. Já a dimensão dos derivativos de balcão, os produtos exóticos que representam contratos muitas vezes inexistentes, fórmulas de apostas puramente especulativas que escapam da definição de seus criadores, é assustadoramente maior. De acordo com a Associação Internacional de Swaps e Derivativos, o valor de face destes, em escala planetária, subiu de 866 bilhões de dólares, em 1987, para 454 trilhões em 2007. Em vinte anos, uma versão de capital simbólico sem lastro e nem resgate possível tem a dimensão de “valor” equivalente a mais de 32 vezes o Produto Interno Bruto dos EUA, ainda o maior do mundo!

Aumenta o objeto, cresce o tamanho do problema e segue o padrão de domínio. As empresas de mídia brasileiras – e uma boa parte das que estudamos, nós ou colegas da economia política da comunicação em termos globais – silenciam quanto aos fatores causais da “fraude com nome de crise”, como dizem os manifestantes espanhóis do movimento Democracia Real Já! Não por acaso, compreendemos estas companhias – algumas de capital aberto e ações em bolsa – como pilares do modus vivendi atual: voltado para o mercado, consumo suntuoso e endividamento em todos os níveis.

Em termos de infraestrutura, o padrão se assemelha. As mesmas plataformas que permitem a comunicação digital em banda larga foram, antes, desenvolvidas pelas redes interbancárias, possibilitando a compensação e transferência de recursos em escala global; incluindo a evasão de divisas com origem duvidosa e destino sigiloso, todas devidamente asseguradas nos “paraísos fiscais”. O tráfego de dados binários pode implicar na circulação acelerada tanto de bens simbólicos na forma comunicacional (produtos midiáticos) como representações de valor na forma simbólica (capital financeiro). Diz-se que no auge das transações de derivativos – na verdade, um Esquema Ponzi de pirâmides em nível global – a cada 4 segundos um operador negociava um pacote de títulos representando uma casa já mais de dez vezes hipotecada.

Diante de tanta evidência foi inevitável nos debruçarmos sobre o fenômeno que gerara a maior transferência de renda da história da humanidade. Eis a ancestralidade e as bases de motivação acadêmica e política para criar o Núcleo de Estudos da Globalização Transnacional Corporativa e da Cultura do Capitalismo - NIEG.

Este artigo foi originalmente publicado na Revista IHU.






voltar