É inevitável para qualquer análise política um pouco mais séria e menos atrelada ao discurso oficial, de tipo pensamento único, a distinção entre as políticas energéticas e o acionar do Estado brasileiro.
Sim, é necessário recordar que atingimos a auto-suficiência em petróleo, mas esta veio, além do empenho e genialidade dos trabalhadores petroleiros da nação, também em função da queda de crescimento nos últimos 25 anos. A Petrobrás, como empresa estatal controlada por seu Conselho e administrada em uma soma de interesses mercadológicos, projeção do país, atendimento das exigências de grandes no setor e um pouco de política externa. A empresa estatal, de economia mista e controle semi-privado desenvolve lógica própria. Por vezes, muitas das vezes, à margem das projeções de interesse nacional.
Em artigo publicado aqui e antes no Noblat, expus de forma pausada e com intentos didáticos, como Chávez toma à frente do gigante deitado em berço esplêndido. E detalhe, a fonte deste crescimento, é justamente a PeDeVeSa. Não apenas ganhando o carnaval carioca, influenciando diretamente nas eleições em diversos países, mas bancando as obras de infra-estrutura e reconstruindo cadeias produtivas. Para liderar o bloco regional, além do esforço diplomático, do proselitismo midiático, é necessário bancar, matar no peito o prejuízo e tornar-se essencial para a vida e a morte dos parceiros.
Na reunião de emergência de Puerto Iguazú, os 4 presidentes trazem para a mesa de negociações uma pauta já firmada antes por Morales, e isso foi assinado na rua e com pacto de sangue.Conforme disse Chávez, e de forma acertada, o mandato de Evo é imperativo no quesito hidrocarbonetos. O interesse de Estado da maioria dos bolivianos foi contra o interesse da projeção sub-imperialista brasileira.
Chávez e Morales emparedaram Lula que por sinal tem de emparedar a Petrobrás. O que está em jogo vai além das eleições presidenciais brasileiras de 2006 e mesmo da reconversão industrial da matriz energética usada no país. O que está em jogo é a possibilidade real de bloquear o avanço de negociações unilaterais entre países hermanos e o Tio Sam. O momento é grave e necessita de vigor.
Como disse a Diadorim para Riobaldo:
“Carece de muita coragem companheiro, carece de muita coragem!”