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Ciriana tupiniquim e a farra no Brasil


Dick Cheney, cujas relações umbilicais com a Halliburton são públicas, se veria em maus lençóis se por um milagre de Nsa. Sra. da Aparecida, o ministro Márcio Thomaz Bastos resolvesse varrer do país seus sub-contratantes.



Na semana do 11 de setembro, não o de Santiago de Chile mas o de Nova York, o fato da ação ter cumprido 5 anos chamou a atenção de todos. No caso desta página, mesmo classificando-a como “regionalista”, uma vez que é dedicada à América Latina, alguma correlação foi buscada. Com ligeiros esbarrões, tanto por direita como por esquerda, atingiu-se o nicho de análise.

A edição da revista Caros Amigos de setembro de 2006 foi um esbarrão por esquerda. Na matéria intitulada Guerra S.A. a repórter Natalia Viana nos oferece um panorama das empresas privadas de contratos bélicos. Abastecendo o mundo dos mercenários, sempre temos esbarrões por direita. A gíria inglesa de Mercs foi conhecida pela geração dos ’80 (a qual pertenço), na produção cinematográfica da era Reagan, e pela revista especializada Soldier of Fortune (SOF, Soldado da Fortuna). Na vida real além da mídia, a situação é muito mais complexa do que os tiros sem fim de Hollywood.

Partindo do que já foi coberto pelo excelente trabalho publicada na Caros Amigos, resolvi adentrar nas fontes abertas proporcionadas pela internet. Nas três Notas abaixo, estão listagens de empresas israelenses e uma geral, proveniente de página especializada no mercado da guerra. Minha curiosidade foi além, indo ao encontro do talento nato para entrar em tumultos sem fim. Para não repetir o que Natália Viana já escrevera, cheguei ao dado que além dos contratantes, algumas empresas tipo “PMC” (da tradução Empresas Militares Privadas), tem escritórios abertos e operando legalmente no Brasil.

Uma delas, muito conhecida pelos subcontratos com mercenários através da KBR, a Halliburton, tem operações e sedes físicas na Bahia (Salvador, Camamu e Catu), Sergipe (Aracaju - dentro da Petrobrás! – e Nsa Sra do Socorro), Rio Grande do Norte (Natal, Mossoró), Rio de Janeiro (Rio capital, Niterói e Macaé) e no Espírito Santo (São Mateus e Vitória).

Além da toda poderosa empresa terceirizada da ocupação do Iraque, temos escritório da Control Risk Group em São Paulo. Esta última é típica PMC, contratando mercenários a partir da grande demanda de militares, policiais, profissionais de segurança e até lutadores desempregados.

Fazendo companhia às PMCs no Brasil e aos contratantes semi-autônomos, estão as históricas agências de detetives privados Kroll O’Gara e Pinkerton. A última remonta ao século XIX, e tem seu escritório no centro do Rio de Janeiro, capitaneado por um brasileiro, Sérgio de Mattos. A Kroll, notória prestadora de serviços para Daniel Dantas, Carla Cicco e cia, tem um homem de origem inglesa à frente (John Barham, provável ex-SAS) e uma brasileira no departamento de RH (Elaine Costa). Sua sede fica em edifício inteligente em São Paulo.

Uma importante joint-venture é a Centigon, unificando esforços e redes de clientes entre a Armor (provedora de suprimentos de engenharia bélica) e a própria Kroll O´Gara. Seu nicho de mercado está em alta, e providencia blindagem de carros particulares de luxo. Chegam a ter uma fábrica no Brasil.

Mais importante do que o levantamento de fontes abertas, é a análise comparativa que chega a constatar a semelhança de modus operandi das PMCs, das empresas de inteligência e espionagem privadas e o próprio serviço de inteligência operando no Brasil. Os círculos concêntricos vão ampliando de acordo com a complexidade e risco da operação.

Lembremos o caso Maurício Marinho nos Correios. O agente Lang, titular da operação na ECT, repassou aos informais da ABIN a tarefa de terceirizar a gravação. Operava como controlador, a parte visível da linha. Quando a coisa estoura, feito o estrago, a CPI detona o agente, Mauro Marcelo compra o barulho e chega-se ao resultado esperado. Sai da Diretoria da Agência o delegado da Polícia Civil de SP, e volta um homem da casa, agente de carreira do SNI.

O mesmo ocorre com as PMCs e as operações para-legais de CIA e DEA. Algumas indústrias são especialmente sujas pela própria natureza. Uma delas é a do petróleo e derivados, outras são as de mineração e marinha mercante. A indústria do petróleo anda de braços dados e financiando a expansão do Império para o Oriente Médio e a Ásia Central. Este é o outro lado do 11 de setembro, cujas operações militares implicam a terceirização da guerra. Seria, por assim dizer, o complexo industrial-militar operando no mundo globalizado, levando adiante a cruzada preconizada por Samuel P. Huntington e cia.

Uma certeza hoje os brasileiros já tem. A capacidade operacional da PF dá e sobra para estourar com estas empresas operando no país. Mas como é possível ler em fontes abertas, a Halliburton opera no Brasil junto e ao lado da superavitária Petrobrás. É barulho na certa e implicará em problemas nas relações com os Estados Unidos. Mas, pelo gosto da audiência e da DCS da Polícia Federal, uma operação assim geraria laudas impressas sem fim.

Dá um belo enredo de Ciriana tupiniquim; só não está garantindo final feliz para ninguém.

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