26 de julho de 2015, Bruno Lima Rocha
As frases são sempre as mesmas: "Populismo fiscal, suporte do Estado e fraude política a caminho"....assistimos a teleconferência apregoando o Manual do perfeito idiota daqueles que nos xingam de idiotas latino-americanos sendo aplicado.
Assistindo o programa Globonews Painel (deste sábado 25 de julho de 2015), cuja bancada era composta por dois economistas vinculados a consultorias privadas e um colega da ciência política igualmente vinculado a outra consultoria, me dei conta que há um tema de fundo nesta crise política. No primeiro mandato de Dilma, o ministro Guido Mantega de fato tentou uma inflexão desenvolvimentista, mas sem uma base social mobilizada e tampouco a predisposição do partido de governo para confrontar a sangria desatada de mais de 40% do orçamento da União para a especulação da agiotagem rentista. No segundo turno de 2014, houve uma eleição plebiscitária cuja chapa vitoriosa aceitou o brete do rentismo e chamara um ministro da Fazenda que apoiara Armínio Fraga para tomar conta do caixa da 8a economia do mundo.
Agora, diante de uma crise política de primeira grandeza e sem a conhecida base social mobilizada, podemos ficar assistindo um processo de paralisia decisória rumo à uma catástrofe institucional sem o Poder Moderador das FFAA a ser convocado pela reação das vivandeiras. A solução vai ser civil e no andar de cima, isto se deixarmos. Logo, precisamos compreender que há a necessidade de um poder de veto de fato, vindo das bases da sociedade para não perder os ganhos materiais – pequenos, mas reais - advindos do pacto de classes lulistas.
A direita mais ideológica quer enterrar qualquer pretensão nacional e latino-americana, rumando o Brasil para o eixo do Pacífico. Esta guinada vem com direito a Tratado de Livre Comércio, TLC com a China, conforme assinado pelo Peru em 2011 e outras políticas de corredor de mercadorias e antessalas de desindustrialização. Aqui no Brasil, perdida e sem auto-referência, a centro-esquerda se contenta em entregar quase tudo para não deixar de perder o mínimo (que pelo visto se resume a ocupar o Poder Executivo até o final do mandato constitucional). Estão pregando abertamente que Dilma se mantenha no Poder Executivo abrindo mão de qualquer capacidade de governar por conta de sua campanha, entregando o pote de ouro (as receitas da União e a espinha dorsal da Constituição Brasileira, conjunto de direitos não totalmente assegurados onde está a dimensão substantiva da transição política) e assumindo totalmente o estelionato eleitoral.
Infelizmente, estamos diante da correta criminalização dos agentes econômicos clientes do Estado nacional, embora os mesmos órgãos de Estado não estejam com tanta ferocidade para com a também correta e necessária criminalização do agente financeiro (como, por exemplo, na Operação Zelotes e o Swissleaks). Por mais de duas décadas a centro-esquerda aplaudiu o Ministério Público e a Polícia Federal como se a investigação em alto nível pudesse superar o conflito de classes e de projeto de poder. Vale observar que o jacobinismo republicano é uma tentação mais fácil e exequível no curto prazo do que pensar em um lugar a ser construído de tipo utopia com socialismo e democracia. Quem se recorda do período em que o recém-nascido PSOL andava por todo o país carregando o delegado Protógenes Queiroz como herói nacional irá compreender a natureza desta crítica. Quando o delegado licenciado da PF resolveu concorrer a deputado federal pelo PC do B (base governista) e só entrou no Parlamento pela composição proporcional puxado pelos votos de Tiririca em São Paulo, o discurso jacobino reformista deu de cara com seus limites estruturais.
Se a lição da Grécia for de alguma valia, é necessário compreender que a parcela restante do partido de governo tentará se manter no governo a quase qualquer custo e não governar com o mínimo de fidelidade programática a si mesmo, ou o que dele restara. Escrevi há alguns anos o perfil de dirigentes criminalizados e os classifiquei como "grotescas caricaturas de si mesmos". Hoje esta caricatura é o próprio instrumento partidário, a julgar pelo comportamento de franco atirador e com instinto de sobrevivente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Infeliz a sociedade que tem como liderança pública a uma mulher, ex-guerrilheira que caiu diante das masmorras de Fleury e não cantou e hoje vê esta mesma pessoa que fora heroica em sua juventude atuar como gerente de fim de ciclo, como chefe de almoxarifado da distopia do capitalismo tardio brasileiro. Precisamos urgentemente redescobrir ou reinventar a nós mesmos. Uma palavra de ordem poderia ser: "Mais Santo Dias e menos Luiz Inácio". O tema é recorrente e me proponho a aprofundar o debate.