Bruno Lima Rocha
4ª 03 de setembro de 2008, Vila Setembrina dos Farrapos, Continente de São Sepé, Liga Federal de los Pueblos Libres
Em momentos de crise, quando o analista acerta na previsão mais drástica, é porque realmente as coisas vão mal. Nestas horas, acertar é constatar o temor pela sociedade democrática, com direito a privacidade, plena defesa. Também é afirmar que precisamos da continuidade das ações federais no combate das macro-organizações criminosas operando no país.
Explico. No livro de minha autoria “O grampo do BNDES” (Rio de Janeiro, Sotese, 2003), afirmei que a operação de vigilância que resultou na escuta ilegal das conversas entre o à época ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, com o presidente do BNDES André Lara Resende e o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso não fora algo inusitado. Ao contrário, é parte da rotina da ação de espionagem de uma agência de inteligência cujo alvo é o ambiente interno e com um cliente que necessita saber dos passos de seus pares. O “cliente” na gíria do meio é a Presidência e o presidente no exercício do mandato. O problema não são os relatórios de análise, mas a forma como eles são produzidos, incluindo a coleta ilegal de informações.
Se comprovados os grampos nas conversas entre o presidente do STF Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), teremos algumas constatações. A primeira é que a tradição de vigilância do Estado sobre o próprio Estado continua operante. A segunda é que o produto destas conversas nem sempre vão apenas para o cliente. A terceira é que o “vazamento” destas escutas ilegais consegue gerar fatos políticos e midiáticos que superam o efeito das investigações propriamente ditas. A quarta e última é que se corre o risco de desprestigiar operadores policiais de mais alto gabarito, com orgulho profissional e vontade de exercer a Justiça.
Seja qual for à conclusão sobre os possíveis grampos no STF e no Senado, qualquer forma de inibir a PF e a Justiça de investigar sobre os crimes de elite será um prejuízo para a democracia no país. Entendo duas ações de governo como fundamentais. Uma diz respeito à vigilância interna sem autorização do Judiciário. Isto tem de parar imediatamente e quem praticar essa modalidade de espionagem deve ser exemplarmente punido. A segunda ação é quanto à espinha dorsal investigativa iniciada com a Operação Chacal e prosseguida na Operação Satiagraha. Este trabalho é a chance de passar a elite do país a limpo e interromper um nexo político-criminal evidente.
Concluo afirmando que o problema é a espionagem política e não a inteligência policial de forma legal. Afinal, a quem interessa a paralisia da ação de polícia judiciária executada pela PF?
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat