23 de abril de 2014, Bruno Lima Rocha
Está aceso o alerta no Planalto. Embora eu não creia nos mecanismos de pesquisas eleitorais e de opinião, estes indicadores são levados em conta na formação das preferências dos eleitores. Em ano eleitoral, o que cientificamente é facilmente refutável, torna-se ferramenta de campanha, instrumento de formação de alianças e canal para arrecadação de fundos.
Segundo os dados da última pesquisa Ibope (17/04/2014), a desaprovação do governo de Dilma Rousseff e Michel Temer subiu de 43% para 48%; no sentido inverso, a avaliação positiva caiu de 36% para 34%. Já a análise do que seria o estilo de governo de Dilma baixou de 51% para 47%. Reforço a ideia central. Se fosse um debate acadêmico, cada índice seria contestável. Em se tratando de disputa eleitoral, onde o eixo passa pela comunicação social e o marketing político, os polêmicos indicadores incidem e muito.
Das várias formas para análise da difusão desta pesquisa, entendo haver uma centralidade. Esta traz a percepção do núcleo petista do governo federal com a sempre tardia proclamação das marcas sociais. Por tabela, tenta fazer a comparação com o período anterior, cada vez mais longínquo.
A estratégia política é simples. A cada quatro anos, o petismo recorda-se de suas origens, conclamando os beneficiários dos programas distributivos do Estado para se fazerem presentes. O co-governo é pragmático neste sentido.
Sempre que é necessário, de forma ordeira e pacífica, o povo desorganizado é chamado para dar testemunho – como num culto de tele evangelismo roteirizado -, dizendo como sua vida melhorou e a relação de confiança que tem para com Lula e a “mãe do PAC”.
O problema é a memória como geradora de preferências. Com o tempo, a distância entre a Era Lula-Dilma e os governos de FHC aumenta a dificuldade na comparação. Se fosse conta de chegada, as eleições estariam pré-resolvidas. Fernando Henrique trouxe a estabilidade e Luiz Inácio o crescimento.
Comparando com a hiperinflação, o Plano Real soluciona um dos problemas, mas o governo tucano alinhado ao Consenso de Washington não teve uma agenda social. Assegurou a reeleição em 1998 e passou os quatro anos seguintes perdendo legitimidade.
Passados onze anos da posse de Lula, os indicadores sociais são imbatíveis, mas uma boa parte dos brasileiros já olha de forma cansada e cética para a democracia representativa e o fisiologismo que garante a tal da governabilidade. Ou Dilma se “desmarca” daquilo que a cerca, ou a reeleição se torna uma projeção arriscada.
Artigo originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat.