Raras vezes podemos assistir à uma queda vertinosa, estilo bola de neve, de um governo estadual. Não fosse o Rio Grande o que é, ou o que se pretende ser ou já foi, e estaríamos taxando a crise local de “típica coisa de estados nordestinos”. Não é e nem isso aqui é uma republiqueta. O debate entre Feijó e Busatto, uma conversa privada sorrateiramente gravada pelo ex-presidente da Federasul com o chefe da Casa Civil de Yeda, artífice do Pacto pelo Rio Grande, operador do governo Britto e funcionário de carreira do fisco estadual é no mínimo uma crise de paradigma.
Afirmo isso sem nenhuma dúvida nem demagogia analítica. A norma da política brasileira é o botim, o asslato ao Estado, tanto por grupos privados como por consórcios político-eleitorais. Os dois partidos monstros do RS são o PP e o PMDB. Carregam consigo a dualidade nada áspera e a capacidade de estar em quase todos os governos. Já o PT, desfraldada a bandeira do Detran-RS, aproxima-se de tudo e de todos para tentar derrubar Yeda. Feijó embarcou na aventura e a coisa agora não tem mais volta.
Não posso crer que em sã consciência Paulo Afonso esperava de Yeda o saneamento da coisa pública. Na atividade privada, onde o vive é líder e vendedor do grupo que herdara da família, é conhecida a regra do vale tudo. No Estado que não é público, também. Qual foi o problema da conversa?
Busatto disse o que todos sabem e ninguém fala. Feijó perguntou o que todos querem perguntar mas não desejam admitir a resposta. Mas, a conversa de informal virou documento. Prova a materialidade da conspiração política que Paulo Afonso deseja executar contra um governo corrupto. Deu uma de “João sem braço” e convenceu ao “núcleo de decisão” de Yeda. Ainda que ela nada soubesse – coisa impossível – foi omissa por não denunciar e limpar a interna do governo. Mas, tudo isso é bobagem.
Qualquer operador político tem de saber. Qualquer policial federal de carreira sabe. Qualquer fiscal de tributos sabe e vê. O problema é pegar e querer pegar. Feijó quis e pegou, e para isso, aliou-se com o PT de Fabiano Pereira, Stela Farias, com Tarso de mestre de bonecos de marionetes e o fantasma do Banco Santos povoando os pesadelos da ex-prefeita de Alvorada.
O momento é cruel e entendo que o governo Yeda começa a cair. Não de maduro, mas apostando tudo entre a UDN e o PT que ela será derrubada. Só dura se a oposição estadual for muy burra, ou então se a direção da UDN no país intervier e acabar com a aventura de Feijó e Cia. Nestas horas não se pode ser omisso. Opino que:
Yeda sabia. As cúpulas e os setores de partidos tradicionais operam exatamente como foi descrito por Busatto. O problema não são as estatais, porque quando o Estado não tem empresas, autarquias e fundações, aumentam os repasses a “fundo perdido” para grupos gigantescos. E, Feijó também sabia, foi subestimado por Busatto e o mestre das sombras e das conversas infindáveis na Praça da Matriz caiu através de sua grande virtude. A língua de Cézar.