Bruno Lima Rocha
11 de junho de 2008; Vila Setembrina dos Farrapos; Continente de São Sepé; Liga Federal de las Patriadas de Facundo Quiroga
No dia 26 de maio o vice-governador do RS Paulo Afonso Feijó (DEM), recebeu em seu gabinete – conhecido como Palacinho – ao então Chefe da Casa Civil Cézar Busatto (PPS). Mais do que uma conversa entre executivos do mesmo governo, tratava-se de prosa informal entre um líder empresarial no cargo de vice e um operador político habilidoso. O debate poderia ser parte de qualquer congresso de ciência política. Busatto discorreu sobre o patrimonialismo e o botim do Estado realizado pelos grandes partidos do Rio Grande do Sul. Feijó se mostrou indignado, em seu “papel como homem público”, com o modus vivendi das elites dirigentes gaúchas.
Se fosse outro o ambiente político, esta conversa seria uma a mais. Não foi. Na tarde de 6ª dia 6 de junho, dez dias após a gravação, a bomba midiática “era vazada”, estourando na Assembléia Legislativa já comovida pela CPI do Detran-RS. Um trecho do áudio foi ouvido de forma pública no parlamento, em meio ao caos político.
Busatto que passava de bombeiro a pivô da crise, falou o que todos sabem, abrindo margem para interpretações. O ex-presidente da Federasul procedeu de forma incorreta, porque gravou tudo, sem o conhecimento do interlocutor. É tão nefasta a espionagem como recurso político como é absurdo a cidadania ter de arcar com o sistema de espólio do reparto de cargos e orçamentos. Cada palavra de Busatto tem dupla interpretação e as versões são escandalosas. A diferença está na legalidade do patrimonialismo e na ação criminosa de organizações fraudadoras dos cofres públicos com empresas sistemistas terceirizadas. O clima de denuncismo “evolui” para a desconfiança estrutural, tornando-se crise política profunda.
Paulo Afonso Feijó afirmou para a mídia local ser possuidor de várias outras conversas com membros do governo Yeda. Assumiu que as gravações foram feitas no Palacinho e às escondidas. O vice declarou ter as armas para sangrar o governo do qual fez parte. A crise política se desenrola sem nenhum final previsível.
Este artigo foi publicado originalmente no blog de Ricardo Noblat