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Breve observação do Capitão Vázquez e do juiz Nicolau


De cabelos cumpridos e a aparência disfarçada, o homem da OCOA foi “recapturado” após realizar fuga fantasmagórica em pleno centro de Montevidéu, mesmo estando sob forte “escolta” militar.



A fuga protagonizada pelo Capitão Gilberto Vázquez, da reserva do exército uruguaio, preso sob custódia e acompanhado por escolta dentro de um hospital militar é algo digno de análise. Como esta página se dedica a observar nosso continente chamado América Latina, vamos abordar o tema nesta e num outra Nota no próximo chasque.

Que significado simbólico tem a uma fuga de um militar de carreira, acusado formalmente pela Justiça argentina de atentar contra os direitos humanos? Mesmo recapturado uns dias depois de sua fuga datada de 2 de julho, Vázquez, assim como José Gavazzo e José Silveira, tem um tratamento de confiança e não como delinqüentes. Todos estes operadores militares foram da OCOA, grupo de tarefas operacionais que atuou no Uruguay, na Argentina e em coordenação com a repressão brasileira, em especial no Rio Grande do Sul da segunda metade dos anos ’70 e na primeira metade dos ’80. Quando a Justiça argentina lhes pede a extradição e eles estão presos no país vizinho, essa é uma boa forma de escapar do julgamento do outro lado do Rio da Prata.

Anunciara o veterano contar com o apoio da Loggia de los Tenientes de Artigas, proto-fascista organização de afinidade dos oficiais uruguaios. Esse anúncio público não fora à toa, tal e qual a outra “coincidência curiosa”. Não por acaso, o capitão Vázquez foi recapturado em companhia de uma cidadã brasileira. Creiam, não é mera coincidência; conforme já dissemos antes, os vínculos são muito mais fluidos e diretos do que se possa imaginar. O laço entre gente implicada em crimes de lesa humanidade torna-se muito mais forte e permanente do que se imagina. Afinal, ninguém é bucha de canhão da doutrina das fronteiras ideológicas e sai impune da jornada.

O juiz aposentado do TRT de São Paulo Nicolau dos Santos Neves, chegou a evadir da sua captura e “refugiando-se” no Uruguay. Pouco tempo depois, voltou correndo para São Paulo, afirmando que preferia a prisão a ser extorquido por ex-aliados. É sabido que o juiz conhecido como Lalau foi o “caixa” da Operação Bandeirantes (OBAN), isto antes das diretrizes do Exército brasileiro botarem alguma ordem castrense na repressão constituindo os Comandos de Operações de Defesa Interna. Também é notório que um conhecido empresário da educação privada, de sobrenome italiano, foi um dos homens da coleta da mesma “caixinha”. Quando o juiz procede a fuga, vai em busca de segurança e liquidez. Liquidez havia, considerando o paraíso financeiro do sul da América. “Segurança” torna-se assim um conceito relativo, visto que antigos “amigos” passam paulatinamente a proceder no crime comum, prática esta fomentada desde o botim de guerra interna em plenos anos ’70.

Gilberto Vázquez não seria exceção, tampouco Lalau ou mesmo Contreras e Banzer e seu tráfico em nome da bi-polaridade. O botim da guerra suja gerara fortunas, alçadas ao primeiro time de alguns segmentos econômicos, durante e no processo de cartelização das democracias do Cone Sul da América. Embora não seja um “ingênuo”, o capitão Vázquez é um peão neste tabuleiro cujas raízes apontam para o subsolo de terrenos baldios e o fundo do mar austral.

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