Estrat�gia & An�lise
ISSN 0033-1983
Principal

Artigos

Clássicos da Política Latino-Americana

Coluna Além das Quatro Linhas

Coluna de Rádio

Contenido en Castellano

Contos de ringues e punhos

Democracy Now! em Português

Democratização da Comunicação

Fale Conosco

LARI de Análise de Conjuntura Internacional

NIEG

Original Content in English

Pensamento Libertário

Publicações

Publicações em outros idiomas

Quem Somos

Sobre História

Sugestão de Sites

Teoria



Apoiar este Portal

Apoyar este Portal

Support this Website



Site Anterior




Creative Commons License



Busca



RSS

RSS in English

RSS en Castellano

FeedBurner

Receber as atualiza��es do Estrat�gia & An�lise na sua caixa de correio

Adicionar aos Favoritos

P�gina Inicial












































Artigos
Para jornais, revistas e outras mídias

A DRU e a economia real


Na origem do Sistema Único de Saúde está o desvio padrão do orçamento previsto e nunca aplicado. A DRU é a concertação legal da aplicação sistemática dos recursos sociais da nação na jogatina e na especulação digital.

5ª 20 de dezembro de 2007, Vila Setembrina dos Farrapos, Continente de São Sepé

Na madrugada da última quinta-feira 13 de dezembro, o Senado rejeitou a PEC da CPMF. Assim, a contribuição “provisória” que durara mais de uma década foi extinta. A previsão orçamentária perdeu R$ 40 bilhões certos para o Tesouro Nacional. Outra medida foi votada, sendo aprovada em primeiro turno. Trata-se da Desvinculação de Receitas da União (DRU), ontem revalidada até 2011. Este mecanismo permite o desvio de 20% das receitas vinculadas. Ou seja, as conquistas sociais de 1988 ficam à mercê da equipe econômica, mais preocupada com o superávit primário e os acordos da dívida bruta.

enviar
imprimir

Peço atenção aos leitores de modo a perceberem um tema mais que “blindado” no país. Na tarde de quarta-feira 12 de dezembro, durante as negociações da votação da CPMF, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) declarou haver consultado um especialista tributário a respeito da DRU. O sábio ponderou que do ponto de vista fiscal, a Desvinculação era necessária, mas para as políticas sociais, era maléfica. Ouvi a declaração em uma grande emissora de rádio e não foi citado o nome do especialista. Ainda sem saber o autor, palmas para ele pela franqueza.

Já na sexta-feira, dia 14 de dezembro, o Jornal Gente da Band AM/RS entrevistou ao secretário estadual de Saúde Osmar Terra. O médico e político profissional, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), lembrou que a lei do SUS teria de ser acompanhada por uma base orçamentária. O que parece óbvio jamais foi feito. A história da CPMF nasce desse desvio. Estavam previstos 30% da seguridade social brasileira a ser aplicado no maior plano de saúde pública do mundo. Em valores de 2007, isto seria cerca de R$ 100 bilhões, mais do que o dobro do imposto criado pela sugestão de Adib Jatene. E, tal e como a previsão de orçamento inicial dos anos ‘80, a contribuição vinda do dinheiro movimentado pelo cheque e operações bancárias jamais foi na íntegra para a saúde.

Ou seja, a saúde no Brasil tem em seu orçamento o “vício de origem”. Tanto é assim que no meio do desespero, o governo lançara uma carta com assinatura do presidente e seu ministro da Economia comprometendo-se em aplicar 100% do dinheiro na área que seria sua por direito. Já era tarde. Mas, como a luta política é uma coisa e a posição estrutural do Brasil é outra, a oposição aprovara a DRU naquela mesma noite fatídica para o Planalto. Passando em segundo turno, a aprovação aumentou o poder de barganha da oposição e da base “aliada.

Entendo ser a DRU essencial não para o “equilíbrio” do país nem nada por estilo. Como tudo na política em escala macro, a medida se mescla com a economia e os interesses estruturais. Estamos na era da “sinalização”. Assim, acabar com a garantia que um em cada cinco reais do orçamento vai assegurar a rolagem e pagamento da taxa de juros, já é um “sinal” e tanto. Nessa correlação de forças, a economia real fica em segundo plano, um pouco à frente das políticas sociais.

Infelizmente os números que seguem são impressionantes. O presidente se vê emparedado com a perda R$ 40 bilhões, mas temos outros ralos maiores por onde escoam as riquezas. Número badalado no momento, apenas em 2006 gastamos em torno de R$ 275 bilhões com juros e amortizações das dívidas interna e externa. Neste mesmo ano o PIB fechou em R$ US$ 956 bi e o endividamento total do país bateu 43% desse montante. Assim, de cada dez reais circulantes na economia, R$ 4,30 estão comprometidos.

Outro mito a ser compreendido é o investimento externo. Do total de capitais que aqui entraram, saíram pela janela em frente 87%. Boa parte destes “investidores” vem para jogar na ciranda digital, balizada pelo governo. Isto porque a MP 281 isenta de pagamento de imposto de renda quem comprar papéis de nossa dívida. Tem mais. As remessas de lucros, tampouco taxadas, bateram a marca de US$ 16,4 bilhões. Já os juros pagos apenas com a dívida externa atingiram a US$ 11,26 bi. Enquanto isso avança a fronteira agrícola e a monocultura como fiel da balança comercial. A marca de US$ 13,5 bi foi atingida com as exportações do setor primário. Como o chamado agronegócio não gera valor agregado, temos de plantar toneladas sem fim de soja para tentar dar um fôlego no superávit primário. Ainda assim, o déficit nominal sai vitorioso. E porque será?

Uma pista está no acumulado dos juros da dívida pública no primeiro mandato de Lula. Totalizando a R$ 590 bilhões, na média de R$ 147,5 bilhões anuais. Este valor é maior do que todo o PAC. Somente no ano de 2006 o governo do ex-metalúrgico gastou vinte vezes mais com em juros do que com o programa Bolsa Família, carro-chefe de sua política social. É por isso que a DRU é fundamental para os interesses em jogo.

Seria um erro pensar que a oposição do PSDB e do DEM iriam arriscar a situação do país com os credores internacionais e o sistema financeiro do Brasil. É certo que a barganha foi dura, mas é só isso. Os valores da DRU são grandes, mas ainda maior é a “lógica da “sinalização”. O fim deste dispositivo apontaria a outra política econômica, mais preocupada com a economia real do que com a política financeira. Esta mudança de “sinal” não pode acontecer.

Artigo originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat






voltar