O grampo na Rede Gazeta, afiliada da Rede Globo no Espírito Santo, trás de volta ao cenário nacional um problema estrutural. Desde a implantação da Scuderie Le Cocq no estado vizinho ao Rio de Janeiro, a oligarquia capixaba viu-se comprometida e associada ao crime organizado.
Fica a dúvida, de como uma organização parapolicial orientada à ultra-direita torna-se uma máfia com boa estrutura? E, como esta mesma organização, nascida no Rio de Janeiro, migra para o Espírito Santo no final da década de 80 e consegue um tão rápido crescimento?
Possivelmente, o grampo executado na Gazeta, tinha uma cobertura legal muito bem feita, autorzada esta pela Justiça. Não vamos nos ater a nomes e dossiês e números, recomendando para isso o artigo de Sandro Fuzatto no Observatório da Imprensa. Nos atemos ao estudo da estrutura por detrás dos fatos. O E.M., vulgo Le Cocq, vulgo crime organziado, vulgo máfia capixaba, tem estreita ligação com os poderes constituídos no ES. Durante o governo José Ignacio Ferreira, ele próprio ex-PSDB e banido para a sigla de aluguel PTN, era notório e sabido a falência múltipla ds poderes constituídos do ES.
A ver, José Carlos Gratz era o poder de fato, comandando a Assembléia Legislativa, tinha o E.M. também a maioria no TJ, contando com maioria numérica dos desembargadores do estado; peso considerável nas eleições da OAB/ES, a maioria das cadeiras do Estado Maior da PM capixaba, do Conselho Superior da Polícia Civil e por aí vai. A toma de assalto ao Estado culminou na intervenção que não houve, em junho e julho de 2002.
Em março de 2003, o juiz federal Alexandre Martins, assassinado por pistoleiros na saída de uma academia de ginástica em Vila Velha - Grande Vitória, trás o tema E.M. à mídia nacional. Sabe-se que a Rede Gazeta tinha vínculos mais estreitos com o governo anterior.
A intervenção federal foi branca, sendo que o atual secretário de segurança é o delegado federal Rodney Miranda, o mesmo que comandou a invasão da empresa Lunús, em março de 2002, em São Luís do Maranhão. Homem de confiança de Serra e do grupo de Marcelo Itagyba, este é mais um delegado federal cuja miríade do poder deixa inebriada a mente policial.
Paulo Hartung (ex-PSB, hoje no PMDB) utilizou a necessidade de proceder na investigação do assassinato do juiz Alexandre Martins e somou a esta a possibilidade de emparedar um grupo de comunicação poderosíssimo para o cenário estadual. Como pensa a bandidagem, é o senso de oportunidade, a ocasião fez o ladrão. O mecanismo é o Guardian, mega central eletrônica com capacidade de grampear e cruzar até 3.000 linhas telefônicas. Antecipando as pautas em contra a ele por parte da Gazeta, podia apertar a direção da empresa e coagi-la nos conteúdos das matérias; em contra-partida, negociava as matérias pagas e a verba de publicidade do ES.
O E.M. se profissionaliza, entra e toma de assalto o campo jurídico capixaba, este por si só faz de anexo e também é apêndice do campo policial. Simultaneamente, os operadores políticos incorporam as práticas da Le Cocq.
A Sicília é logo ali, entre o Rio e a Bahia, tendo à leste o Oceano Atlântico e à oeste as Minas Gerais.
Justiça seja feita, o E.M. também tem seu peso relativo na Civil mineira além do próprio berço carioca-fluminense. Árvore com seiva amarga dos operadores civis da ditadura militar, segue dando seus frutos para desgraça da sociedade brasileira, em especial a sociedade capixaba.