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Lula e o sindicalismo de oportunidades

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Imagens como esta, de 1979, quando o então “novo sindicalismo autêntico” era parido a fórceps, numa mescla explosiva de luta contra o arrocho e pedrada na polícia da ditadura apoiada por atuais aliados da coligação de governo, hoje parecem cenas de ficção científica diante da política de auto-atrelamento das centrais sindicais ao governo que mais distribuiu renda na história do país, mesmo sem tocar em um centavo do sistema financeiro.

09 de fevereiro de 2011, da Vila Setembrina dos Farrapos ludibriados por escravagistas, Bruno Lima Rocha

Há tempos venho defendendo a tese de que após os oito anos de Lula na Presidência, temos um paradoxo. Ao mesmo tempo em que os brasileiros vivem em melhores condições, nossas entidades de classe e de representação social das maiorias perdem poder de convocatória. Em resumo, melhoram as condições de vida, mas piora o sentido organizativo e o poder da parcela organizada. O atual debate a respeito do salário mínimo dá carne ao conceito.

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É certo que durante a campanha eleitoral, a candidatura tucana jogou a proposta do mínimo nas alturas, levando o debate como proselitismo. Também é certo que das seis centrais sindicais (CUT, Força Sindical, CTB, UGT, CGTB e NCST) que se reuniram com o governo Dilma esta semana, nenhuma delas embarcou com tudo na onda Serra e, de forma pragmática, apoiaram direta ou indiretamente a sucessora de Luiz Inácio. Como também venho dizendo há anos neste blog, o pragmatismo cobra seu preço, e este no mundo do trabalho se chama abandono da independência de classe. No início da década de ’90 esta postura ganhou o triste apelido de “sindicalismo de resultados”. Quase vinte anos depois, o modelo “evoluiu”. Agora, no primeiro embate de negociação, justo quando Dilma testará a fidelidade de sua frágil maioria no Congresso, o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo clama lealdade para com o governo e não para os setores de classe que formam as bases destas entidades.

Se por um lado é correto reconhecer a política de valorização do salário mínimo iniciada em 2007, por outro é absurdo supor que se defenderá o interesse dos trabalhadores na base de pactos com governos de turno. A lealdade primeira do sindicato é (ou ao menos deveria ser) para com sua categoria e não com a composição de legendas a ocupar postos-chave no Executivo. Não se trata de oportunismo reivindicar a subida do piso e sim de oportunidade ímpar. Se há desenvolvimento, a divisão básica de renda é pela via do salário. Exigir a elevação para R$ 580,00 e não ficar atrelado à equipe econômica e o Planalto que propõem R$ 545,00 é o mínimo que se espera de um diretor de sindicato. Infelizmente a indignação destes mesmos dirigentes é mais declaratória do que prática. E, como se sabe a capacidade atual de mobilização está muito aquém do necessário.

No Brasil, a manutenção de direitos e as conquistas dos que vivem do trabalho remunerado tem como base o salário mínimo nacional. Se não for para fazer este tipo de defesa, nenhum sindicato tem razão de existir.

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat






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