Na sexta-feira dia 28 de março, ocorreu a primeira assembléia dos professores estaduais (Cpers sindicato) do ano. A convocatória da entidade aventava a chance de greve. Mais de 6000 trabalhadores da educação aprovaram um calendário de mobilização permanente, para pressionar o governo do estado para atender uma pauta de reivindicações entregue em agosto de 2007. Ou seja, aprovou-se a continuidade daquilo que já vinha acontecendo. E porque não tiraram a decisão de entrar em greve?
Retrocedamos para o início do ano letivo de 2008. Antes da Assembléia Geral de março, houve assembléia nos 42 núcleos. Essa rodada é fundamental no convencimento para uma greve, por exemplo. Para sorte do governo do estado, ocorreu o contrário. Apenas 6 núcleos votaram pela greve.
Voltemos no tempo um pouco mais, indo ao mês de dezembro de 2007, quando a última assembléia do Cpers votou pelo Estado de Greve. Daquele momento em adiante, os professores tiraram a decisão de que todos os núcleos, representantes, conselheiros se esforçariam para construir a greve. O problema estava no calendário e na ordem das prioridades. É simplesmente impossível construir uma greve durante as férias escolares. Além disso, a decisão de Estado de Greve é a medida anterior a paralisação total. Portanto, a assembléia seguinte (28 de março), tinha a obrigação de pôr a greve em votação.
O resultado de dezembro refletia a tensão de 2007. Para o ambiente escolar, foram 12 meses pesados. O ano inicia com a demissão dos contratados (1300) ficando as unidades sem funcionários. Os equipamentos físicos que já eram ruins estavam insalubres. O quadro era terrível, pois a nova administração, com Mariza Abreu à frente, fechara bibliotecas, laboratórios e os setores de apoios, como supervisão, secretarias e orientação pedagógica. A tese que levanto neste artigo é a distância não superada entre as pautas já construídas pela direção sindical do Cpers junto da categoria e as demandas e reivindicações das escolas estaduais e suas comunidades.
Um termômetro disso foram as centenas de mobilizações isoladas de escolas que iam sozinhas para a Secretaria Estadual de Educação (SEC), com comunidade escolar junto. Pelos bairros da Região Metropolitana e em cidades pólo do interior, houveram caminhadas nos bairros, trancamentos de ruas protestos pontuais. Sobrava fermento para o protesto social crescer.
Entendo, desde o ponto de vista analítico, que houve um equívoco de prioridades, refletindo o divórcio entre a direção de uma categoria estruturada e o interesse da classe como um todo. As escolas mobilizaram professores, estudantes, funcionários e pais, indo protestar na SEC uma série de vezes. O esforço se deu de forma transversal e através de alguns núcleos. Houve pouca ou nenhuma presença da direção colegiada com horas livres justamente para fazer este trabalho. Repito: atos “isolados” como este ocorreram às centenas. Era a oportunidade de reatar os laços sociais entre o sindicato e o tecido social da educação pública. A chance foi parcialmente desperdiçada.
Ainda existe uma possibilidade real de confluência das pautas para um conjunto de interesses e sentimentos comuns. O momento segue forte agora. Há denúncias de escolas sendo fechadas; diretoras sofrendo processos administrativos por defenderem a comunidade que as elegeram e não a política da SEC; enturmação; multisseriação; e falta de equipamentos e funcionários.
O jogo está em aberto para abril, apontando para uma negociação das pautas urgentes dos professores. Já as medidas estruturantes de Mariza Abreu dificilmente serão barradas sem uma agenda que convoque a comunidade em torno das escolas. Se estas mobilizações não forem priorizadas logo, o Cpers vai entrar em processo eleitoral e se volta para a vida interna. Como se vê, não é nada fácil mudar uma mentalidade de décadas.