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Copa do Mundo para gringo ver

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O espetáculo da Copa torna a taça o maior objeto de desejo dos brasileiros, que não percebem o volume de dinheiro público gasto no futebol.

20 de julho de 2010, de Maceió, Rafael Cavalcanti

Mesmo com o fim da Copa do Mundo na África do Sul, os brasileiros continuam respirando o evento esportivo de maior clamor midiático do planeta. Será assim até 2014, quando o Brasil sediará o próximo torneio mundial de futebol. É notório que muitos estão animados com a possibilidade de acompanhar de perto os jogos que podem levar a seleção tupiniquim ao hexacampeonato. No entanto, o preço da animação é alto e pode acarretar em sérios prejuízos para a população, principalmente a de baixa renda.

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O orçamento do Brasil com infraestrutura, transporte urbano, aeroportos e segurança para o evento passará facilmente de R$ 20 bilhões, mais do que o dobro do que foi gasto pelo país africano na Copa de 2010. Do montante, os estádios usarão R$ 5,3 bilhões. Na medida em que o Mundial se aproximar, a tendência é que a liberação de dinheiro público aumente para deixar tudo pronto aos turistas antes da primeira bola rolar.

O dinheiro da Copa não sairá apenas dos cofres da União. O Governo Federal autorizou por decreto as cidades sedes a ultrapassarem os atuais limites da Lei de Responsabilidade Fiscal para gastos com o evento, permitindo assim que os municípios tenham uma dívida equivalente ao dobro do que arrecadam durante os próximos quatro anos.

Desde 2000, esta mesma lei impedia que os governos estaduais e prefeituras aumentassem os investimentos em educação, saúde, habitação e remuneração de servidores públicos. Tal incoerência deixa claro que a aplicação da lei é vulnerável a momentos e interesses de uma elite política, que vê em um evento de forte mobilização nacional a oportunidade de usar os recursos do Estado para fins particulares.

No Brasil, quem controlará o uso da maior parte do dinheiro público será o Ministério dos Esportes e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Nenhum dos dois é confiável. Resgatando o histórico do atual ministro Orlando Silva, chega-se ao escândalo do cartão corporativo, aquele que ficou famoso pela compra da tapioca de oito reais e por garantir dezenas de milhares em gastos pessoais ao homem forte do esporte no Governo Lula.

A CBF, por sua vez, é uma entidade privada comandada há 21 anos por Ricardo Teixeira. Além de mandar e desmandar na Confederação, Teixeira passou por duas Comissões Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso Nacional (a do Futebol e a da CBF-Nike), sofreu investigações da Receita Federal por omissão de declarações de rendimento nos anos 90 e acabou condenado no ano passado pelo episódio do “voo da muamba”, relacionado ao fato da seleção tetracampeã ter trazido toneladas de bagagens e de compras dos Estados Unidos sem passar pelos trâmites legais dos aeroportos.

Ao lado do Ministério dos Esportes e da CBF, está a Federação Internacional de Futebol (FIFA), que lucrou 3,4 bilhões de dólares com a Copa na África do Sul sem pagar um centavo de imposto. A FIFA também teve uma ação destruidora no comércio informal dos africanos ao impedir e rastrear a venda de qualquer produto com a marca da Copa do Mundo não autorizada por ela.

Violência garante turismo

Pior do que saber que bilhões de reais advindos de recursos públicos estarão em péssimas mãos nos próximos anos, é sofrer com a violência estatal. Na África do Sul, milhares de sem-teto e crianças foram apanhados das ruas e largados em abrigos, quando não foram expulsas de suas casas para dar lugar a estádios, ou simplesmente esconder dos turistas a parcela pobre da população.

Nos cinco anos que antecederam o Mundial, trabalhadores, em especial da construção civil, realizaram milhares de manifestações para obrigar o governo a corrigir as enormes desigualdades sociais do país e exigir serviços sociais básicos, como água e eletricidade. A repressão por parte do Estado contra os movimentos sociais foi desproporcional a ponto de oficializar a proibição de qualquer protesto durante o evento.

O Brasil já viveu uma situação parecida com os Jogos Pan-americanos de 2007. Além do Estado (a nível municipal, estadual e federal) deslocar famílias de suas residências e reprimir qualquer reação civil, o legado do evento internacional foi muito pouco utilizado pela população do Rio de Janeiro. Um exemplo gritante se deu com os prédios da cidade olímpica, que foram entregues à especulação imobiliária, não reduzindo em nada o déficit habitacional da cidade.

Depois da expectativa, restou aos africanos e cariocas conviverem com promessas vazias dos governantes, desigualdade e criminalização dos pobres, imagens da candidatura e visitas guiadas para esconder o cotidiano da maioria dos moradores locais, como bem apontou uma carta aberta dos movimentos sociais aos representantes do Comitê Olímpico Internacional no início do ano.

O desvio de dinheiro que a Copa do Mundo trará é só o começo de uma série que vem aí. Até 2016, o Brasil sediará também a Copa das Confederações, a Copa América de 2015 e os Jogos Olímpicos. Ou seja, muita verba pública vai parar nos bolsos de quem só está preocupado em fazer do país canarinho um grande elefante branco. Entre os gringos do euro e os suburbanos dos centavos, adivinha quem o Mundial de futebol vai escolher?

O espetáculo da Copa torna a taça o maior objeto de desejo dos brasileiros, que não percebem o volume de dinheiro público gasto no futebol.






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