Boletim do Portal, conjuntura do Rio Grande do Sul
Grande Porto Alegre, 8 de outubro de 2007, número 02
O projeto encaminhado pela governadora Yeda Crusius para a Assembléia denota um perfil gerencial da administração pública. Ou seja, por mais que se tente explicar, não tem jeito. É parte constitutiva das premissas neoliberais ver o Estado como um elefante branco, pesado e relapso. Um monstro a ser domado, atacando as suas funções e buscando minar a influência dos intermediários oficias dentro das regras da democracia minimalista sob a qual vivemos e tantos “especialistas” defendem com ardor. Por isso, a subordinação dos partidos políticos aos membros do Núcleo Duro de seu gabinete. O poder político-administrativo em nossa província passa pelas canetas do secretário da Fazenda Aod Cunha, o do Planejamento e Gestão Ariosto Culau, o da Infra-Estrutura e Logística Ariosto Culau, pela própria professora de Economia da UFRGS e ex-comunicadora da RBS Yeda Crusius, e pelo marido dela, Carlos, um dos gurus do “novo jeito de governar”.
Já é o segundo intento de aumentar impostos, especificamente a alíquota do ICMS, a taxação que incide sobre o consumo. Está no DNA, não apenas do tucanato, mas dos Chicago Boys espraiados pelo Continente. Curiosa oposição nas entranhas dos arranjos político-empresariais se manifesta através do vice Paulo Afonso Feijó. Com o Dem, fora do governo, uma vez que Feijó não renuncia, tampouco pode fazer nada. Libelo e arauto da destruição do Estado como um todo, mantendo somente a sua função de capitão do mato, o filho que vendeu o supermercado do pai proclamou hoje a venda da UERGS e da FEE, dentre outras fundações e espaços de formação dos gestores “públicos”.
Feijó não se atentou que tanto ele como todas as quatro Fs (Federasul-Fiergs-Fecomércio-Farsul) são os primos pobres da solução estruturante a ser aplicada. O destino das mudanças no Rio Grande atende a estratégia de investimento global dos capitais cruzados (BNDES incluídos) em busca da água do Aqüífero Guarani. Os grandes estrategistas da distribuição produtiva global miram ao lado de acá del mundo tão ou mais sem-fronteiras do que o mais convicto dos missioneiros. Com a experiência adquirida no Uruguai, quando os plebiscitos da Luz e da Água barraram no voto a privatização destes setores, a receita chegou. Há que mudar a Constituição estadual do RS e retirar as cláusulas que exigem plebiscitos para venda de estatais.
Disse o Piratini que preservará o Banrisul. Pudera, após vender mais de 47% das ações preferenciais, mesmo sem direito a voto já se consolida o direito a veto. Estas ações, em tese, estão pulverizadas. Coisa para inglês ver diria um fantasma negreiro. Podem estar tão compactas quanto qualquer controlador de holding. A corretagem pode ter sido feita com triangulação do estrangeiro. Nenhuma novidade.
Tal e como não é novidade saber que se há condição de frear a avançada democrático-gerencial é com o aumento da participação, defendendo os mecanismos de consulta direta e plebiscito.