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Ahmadinejad e sua controversa visita

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O presidente que nunca foi de esquerda saúda o chefe do Executivo do país integrista não alinhado aos EUA (ao contrário do outro integrismo de tipo saudita) e vê, em perspectiva, relações multilaterais e negócios do Brasil no mundo Pan Islâmico. As críticas feitas para Ahmadinejad e o que ele representa estão corretas, mas não podem ficar reféns do controle da direita sionista.

26 de novembro de 2009, da Vila Setembrina, por Bruno Lima Rocha

A presença no Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, trouxe à tona uma série de polêmicas, que tanto dizem respeito ao regime integrista de base xiita como a política externa do governo Lula. Setores de movimentos de homossexuais, de direitos humanos e da comunidade judaica, protestaram contra sua visita em função daquilo que ele e seu regime representam. De um modo geral entendo as críticas como corretas. É certo afirmar que o governo conservador não respeita as liberdades fundamentais, atenta contra o direito de liberdade religiosa e sexual e persegue minorias. O que me espanta é o silêncio cínico dos mesmos formadores de opinião que o criticam e nada falam em relação ao visitante anterior, o presidente de Israel Shimon Peres.

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Não é necessário listar aqui os crimes de guerra, de Estado e de lesa-humanidade cometido pelos operadores político-militares de Israel contra a população árabe. Se o governo dos aiatolás iranianos persegue a judeus, muçulmanos sunitas, cristãos de distintos credos, baha’is; a direita sionista financiada pela ajuda externa dos EUA reprime a palestinos, drusos, libaneses xiitas e sunitas e jordanianos. Em termos de “riscos para a humanidade”, não há diferença substantiva entre o uso da energia nuclear por Israel (que tem a bomba) e o Irã (que pode vir a ter a bomba). Tais argumentos não se tratam de manobra diversionista, mas de pura constatação dos fatos.

Em tese os protestos tentavam influenciar a política externa brasileira para não aprofundar relações com países que atentem contra valores democráticos. Afirmo que esta premissa é falsa. Se houvesse esta real intenção, um amplo conjunto de entidades deveria forçar o país a triplicar sua agressividade contra a aberração jurídica chamada Base de Guantánamo. Os EUA, a partir de sua prepotência imperial, seqüestra suspeitos em diversos países, tortura-os, prende por anos e julga estrangeiros capturados no exterior de acordo com suas próprias leis. E, para espanto de muitos, tais crimes continuam a ser executados na administração Obama. Infelizmente, a grande mídia brasileira voltara suas baterias simbólicas apenas contra o chefe de Estado iraniano.

Tampouco aqui se trata de apoio ao governo Ahmadinejad. A crítica por esquerda não deveria cair na tentação autoritária de louvar a política integrista. O Irã ocupa interessante papel no cenário mundial ao contrabalançar a ação colonialista de Israel no Oriente Médio e no Mundo Árabe e Pan-islâmico. Mas é só. Internamente esse regime reforça valores conservadores, atenta contra direitos humanos e, por sua brutalidade, fornece elementos para posições pró-ocidente. Ou seja, nenhum pensamento de tipo igualitário poderia somar-se ao apoio ao regime de Teerã e nem a ação imperialista de Tel Aviv.

Infelizmente, Noam Chomsky mais uma vez está com a razão. É lastimável que a bela tradição socialista e humanitária do povo judeu se veja amordaçada pela direita sionista, controladora da opinião externa desta comunidade. É a mesma infelicidade quando, no Brasil, somos bombardeados por conceitos pela metade e fatos pouco ou mal contextualizados.


Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat






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