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Os dilemas da Satiagraha


O dublê de delegado e deputado federal pelo PMDB do Rio, Marcelo Itagiba. Respondendo ao governo do tucano histórico Sérgio Cabral Filho, representa uma das várias PFs que são usadas para a luta dos gladiadores dos piratas das finanças bancadas pelo Estado. Quem paga o pato é o Sérpico tupiniquim, quando a vida imita a arte e não tem Lunus para estourar.



Bruno Lima Rocha

4ª, 12 de novembro de 2008, Vila Setembrina dos Farrapos, Continente dos Traídos em Porongos, Liga Federal de los Decididos de Córdoba

Acompanhar os desdobramentos da Operação Satiagraha resulta mais emocionante do que qualquer filme de ação. Ao contrário de um thriller de Hollywood, o que está em jogo é real. Estamos falando de recursos do Tesouro Nacional, do Plano Geral de Outorgas em Telecomunicações, da impunidade estrutural e do próprio aparelho de segurança e inteligência da União. Só por este fato singular já temos a dimensão do peso dos agentes envolvidos. Ao atingir um operador financeiro do porte de Daniel Dantas e sua instituição, o Banco Opportunity, a equipe do delegado federal Protógenes Queiroz expôs a fragilidade de nossas instituições coercitivas e do sistema de Justiça.

Estamos diante de uma encruzilhada. Por um lado, a cidadania aprova a Satiagraha, aplaudindo com sentimento de justiça a ação dos agentes da lei. De outro, o senso comum indica que a Justiça é seletiva e inverte valores. Vemos os investigadores serem investigados pelo órgão ao qual servem. Isto se dá antes mesmo da PF periciar todas as provas (como os HDs apreendidos desde a Operação Chacal) e chegar a uma conclusão que municie de materialidade a decisão do judiciário. A Contra-Operação G falou a que veio e deixou seu recado. Independente do que venha a ocorrer com esta investigação, entendo que o estrago está feito. Dificilmente um brasileiro que paga seus impostos irá aceitar de bom grado uma situação absurda como essa. Se a crise política de 2005 gerou desconfiança para todo o sistema político-partidário, este caso ratifica a idéia de que a coerção do Estado não é para todos. A conclusão lógica é a noção de que “uns são mais iguais do que os outros”.

O problema também é de ordem institucional e política. Dentro da Polícia Federal, é certo que a hemorragia interna vai demorar ainda mais para estancar. Isto se estancar. Já a relação entre a PF e a ABIN, que já era difícil, agora será de tensão permanente. Mas a pior parte é no campo da motivação do servidor público. Deixo aqui duas questões. Depois dessa Operação, qual policial federal se sentirá incentivado a investigar um capitão de indústria, grande investidor ou político influente? A quem interessa a desmotivação dos agentes, peritos e delegados da polícia judiciária da União?

Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat

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