21 de fevereiro de 2013, Bruno Lima Rocha
A presença no Brasil da blogueira ativista liberal cubana Yoani Sánchez, e os protestos subseqüentes nos remetem a uma série de polêmicas tristemente esquecidas. Geralmente, quando o tema em pauta é Cuba, paixões afloram para além de alguma base argumentativa. A ilha dos irmãos Castro foi um símbolo poderoso ao romper a política de detenção, onde os partidos comunistas satélites de Moscou operavam como bombeiros das lutas populares na América Latina e Europa. No ocidente, após o sistema mundo instalado nos Acordos de Yalta, a antiga União Soviética se comprometia a respeitar o que havia de instituição, ou ao menos, agir de forma subserviente da hegemonia dos EUA e seus aliados da OTAN. Com a vitória em 1º de janeiro de 1959, o Movimento 26 de julho abre o espaço para a insurgência em todo o Continente, passando a rivalizar com as legendas stalinistas. Esta é uma das partes boas da história.
A outra é a construção de um sistema social de amparo em Cuba, transformando em dez anos o antigo cassino e ilha dos pecados da máfia estadunidense em um país campeão de indicadores sócio-econômicos. Durante o período da bipolaridade, o governo de Fidel Castro operara de forma semi-autônoma na sua política externa, apoiando diretamente, até o final dos anos ’80, guerras anti-coloniais como a de Angola ou insurgentes centro-americanos. Enfrentando um bloqueio econômico de meio século e quase indo à débâcle após o colapso soviético, o apoio a Cuba faz das críticas algo próximo do sacrilégio. É quase impossível debater, o que se comprova literalmente nos episódios de Feira de Santana.
Criticar o sistema político cubano por esquerda não é fazer coro com os gusanos de Miami e tampouco com Yoani. Qualquer um com alguma experiência em novas mídias imagina o volume de recursos existente para a tradução dos conteúdos do blog Generación Y em vinte idiomas. Isto não é fruto apenas esforço de viúvas anti-comunistas da Guerra Fria mas, no mínimo, do poderoso lobby cubano da Florida e os recursos subseqüentes. A diferença substantiva é que Sánchez e seus correligionários são dissidentes internos e não terroristas e criminosos como os membros da Alpha 66 e outras organizações para-militares toleradas pelo Departamento de Estado.
Não há impossibilidade teórica e prática em compatibilizar direitos políticos, democracia direta e políticas sociais de distribuição igualitária. Propositadamente, este debate é ocultado tanto pelos “seguidores” de Yoani como por seus críticos brasileiros.
Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat
Observação: vale conferir o artigo neste hiperlink; no entender deste analista trata-se da crítica, munida com informações mais fundamentadas a respeito das fontes de financiamento do ativismo cibernético de Yoani Sánchez. O texto é do professor francês Salim Lamrani.