Bruno Lima Rocha
4ª feira, 30 de julho de 2008, São Sebastião das Lágrimas do Rio de Janeiro
Estou de passagem em minha cidade natal e me surpreendi com a campanha no Rio. Este artigo não aborda o fato da “esquerda” se encontrar fragmentada e com poucos vínculos populares. A preocupação analítica é com os currais eleitorais. Tecnicamente trata-se de regiões da cidade onde a livre escolha do direito ao voto secreto e individual é coagida por um poder que corre de forma paralela e complementar ao Estado. Em tese qualquer cidadão faria suas escolhas de acordo com incentivos, informação, convicções, empatias e outros fatores. Não é o que ocorre hoje na capital fluminense. Infelizmente, nada disso é novidade.
Sempre houveram poderes paraestatais na cidade. O mais antigo é o Jogo do Bicho. Sua convivência é relativamente pacífica sendo a co-gestão do carnaval carioca admitida pelo poder público. A partir da segunda metade dos anos ’80, o narcotráfico, organizado em redes de quadrilhas, tomou o lugar dos antigos “donos de morro”. Implantaram o controle territorial alimentado por uma economia importante para a renda do lugar. Ao contrário do Bicho, este poder exige a lealdade integral. Sai caro ser dissidente na favela. Na primeira metade dos anos ’90, contabilizei dezenas de lideranças comunitárias autênticas assassinadas todo ano. Dez anos depois e o Rio de Janeiro dá outro passo para a colombianização de sua política. O baixo escalão da segurança pública estadual, antes proibido de morar em favelas, se organiza no estilo paramilitar. Assim como as quadrilhas da Ilha Grande ganharam o apelido de “falange”, as forças parapoliciais recebem a alcunha de “milícias”.
Ambas as formações criminosas controlam de forma parecida. Agora ampliam suas redes buscando a representação política. Em tese, a comunidade “fecha com um candidato único”. Na verdade, os poderes locais apontam um candidato e nem se preocupam em comprar votos. Se o “líder” não for eleito, moradores sofrerão. A situação é séria. O momento não é de ação espetacular e mais violência policial. Ou os poderes constituídos apontam uma saída coletiva, ou o Rio será a Medellín brasileira.
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat