Ao observarmos os eventos repressivos ocorridos na Bolívia recentemente, entramos em uma situação delicada. A ocupação da planta de bombeamento de Yabog, no vilarejo de Yacuiba, implicou um limite de controle operário sobre a principal riqueza do país. Não é o primeiro episódio semelhante ocorrido da história da América Latina e menos ainda na Bolívia.
O protagonismo de massas organizado catapultou Evo Morales como dirigente popular e saída institucional a uma crise de poderes sem precedentes. Entre o cocalero e a pressão da oligarquia cruceña, as maiorias indígenas da Bolívia não tiveram dúvidas. Embora tenham elegido ao MAS, o processo cívico-popular fez esta população experimentar um pouco do exercício direto do poder.
Poder este que não será fácil canalizar para um governo, seja este nacional ou revolucionário. O gabinete de Evo, coordenado pelo ex-guerrilheiro e professor Garcia Linera, não exita em chamar as Forças Armadas para agir. Eis uma corporação que não deve ter nenhum tipo de degustação de poder político, em qualquer regime, sob qualquer circunstância. Os riscos desse "gostinho" os bolivianos experimentaram com Banzer e cia.
Na medida em que se distancia da COB e de organizações sociais de El Alto, Evo aprofunda o inicio de uma crise entre o fígado e o rim das classes populares bolivianas. Operar esta cirurgia urge para a sobrevivência do próprio governo.