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Para jornais, revistas e outras mídias

Duas patas da espionagem política brasileira

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Ainda que baixarias – com o depoimento de Miriam Cordeiro - como estas não devam se repetir, os mecanismos de espionagem política seguem como parte intrínseca da corrida ao Planalto. As técnicas de antecipação dedicam-se a conseguir vantagens entre os disputantes e nunca a revelação das formas corriqueiras – e veladas – de imiscuir os recursos coletivos para fins inconfessáveis.

03 de junho de 2010, da Vila Setembrina dos lanceiros negros traídos em Porongos, Bruno Lima Rocha

A pré-campanha presidencial esquentou nesta semana a partir do surgimento das supostas evidências do início de operações de espionagem, ou contra-espionagem, exercida por uma espécie embrionária de comando paralelo da campanha da ex-ministra Dilma Roussef. Os fatos midiáticos gerados a partir da apuração original em uma revista de informação e a repercussão da mesma em jornais e blogs servem, neste texto, apenas como baliza de análise para compreendermos a parte visível desta disputa para além das regras legais.

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O mecanismo contemporâneo de espionagem política no Brasil, que está longe de ser preciso operacionalmente, tem duas patas. Uma destas é a capacidade investigativa, e sua existência e contratação passa pela permeabilidade do aparelho de segurança e inteligência do Estado, em seus vários níveis de governo. No país ainda sobra mão de obra especializada e a própria ação de irregulares fornece a carne de canhão necessária para os arriscados trabalhos de campo. Um exemplo deste modus operandi, onde um controlador coordena de três a cinco agentes de campo, deu-se no início de 2005, quando a fita gravada nos Correios dera a base para o estouro da disputa que resultaria na crise política advinda com as revelações do Mensalão no Congresso. No episódio do grampo telefônico na mesa de PABX do edifício sede do BNDES, nos momentos anteriores ao leilão do Sistema Telebrás (em 1998), ocorrera algo semelhante.

Já a outra perna, esta passa pela capacidade de montagem, criação, difusão e repercussão de verdades parciais, oriundas de dossiês mais ou menos factuais. Em tempos de mídias instantâneas, antecipar-se é sobreviver. Assim, o emprego de uma assessoria de comunicação em tempo integral, cuidando não apenas da imagem do candidato, mas monitorando, respondendo e retro-alimentando toda a circulação de bens simbólicos contra ou a favor de uma candidatura é elemento básico.

Muitas vezes, trata-se numa encruzilhada. De um lado, todos os operadores da política profissional com certa trajetória sabem que tudo pode ser midiatizado, para o bem ou para o mal. Cabe ressaltar que para a boa convivência deveria ser evitado o envolvimento das famílias dos candidatos nas peças de campanha. Ainda assim, não envolver familiares em ataques através de propaganda política tem seus matizes. Por sorte, a maior parte do eleitorado já não aceita que os estrategistas entrem na vida íntima e privada de ninguém. Episódios como os de Miriam Cordeiro, ex-namorada de Luiz Inácio usada como depoente pró-Collor no segundo turno da campanha de 1989, já não devem se repetir.

Reforço a idéia de que isso é completamente distinto do que acusar (e provar) candidatos de terem seus familiares diretos envolvidos em ilícitos ou beneficiados em esquemas duvidosos. Quando este parente citado se subordina ao político em campanha, já não existem diferenças entre um e outro. Se a posição deste aparentado ou a fortuna que ele ou ela arrecadou estão direta ou indiretamente ligadas aos bastidores do Poder Executivo em escala federal, estadual ou municipal, seja por terceirização, contratos ilícitos ou o tradicional nepotismo fisiológico, aí estamos falando de gente se locupletando através dos recursos públicos. Neste caso, eu entendo que caberiam, tanto ataques entre políticos como grandes reportagens investigativas, ganhando profundidade e até subsidiando os órgãos de Estado responsáveis por julgar e punir.

Mas, o que leva ao desespero qualquer um que entenda minimamente das regras do Jogo Real da Política é compreender a lógica da informação confidencial e o falso moralismo no palanque eletrônico. Não há necessariamente nenhuma preocupação com o fazer Justiça. Na corrida eleitoral, o que vale é acumular fatos, dados e provas para derrotar um candidato concorrente. E pelo visto, o lado B da campanha só está começando.


Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat






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