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ISSN 0033-1983
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A reconversão de elites – ex-sindicalistas como gerentes da liquidação do INSS


Calvário do Brasil pós-moderno, as filas do INSS são intermináveis horas de tortura para que o trabalhador possa requisitar algo que é seu por direito. São as regras do jogo real atropelando as formalidades na letra fria da lei.



A idéia de amparo caminha ao lado da noção do direito e do regramento da vida social. No Brasil industrial, o INSS, antes Inamps e antes ainda formado por institutos de previdência por ramos da sociedade corporativa (como o IAPI), era motivo de orgulho e segurança. Para termos uma noção da importância do amparo, a China, controlada pela burocracia-confucionista em busca da acumulação terciária a qualquer custo, até hoje não tem previdência pública. A construção da imagem do INSS é a de um caixa sem fundos e com rombo sem fim. Primeiro que isso é uma mentira, como já comprovara o jornalista Luis Nassif. Segundo, que o motivo do rombo não é da previdência, mas sim do mecanismo perverso da DRU (Desvinculação dos Recursos da União). Terceiro, que as funções do Instituto Nacional de Seguridade Social vão além de pagar a mão de obra aposentada.

Uma das funções básicas do amparo da classe trabalhadora é a reabilitação. Em tese, pressupõe-se que um presidente que fora torneiro mecânico (faz muito tempo é verdade, muito mesmo) e é amputado de um dedo tivesse preocupação absurda e permanente com o serviço público reabilitador das classes produtivas, certo? Errado. O recurso técnico de terceirizar e deixar passar uma mentalidade anti-trabalhador nos corredores do INSS faz com que o uso do direito se torne um suplício.

A figura histórica do capitão do mato era a de um ex-escravo ou filho de escravo, com complexo de bastardo e que tinha mais ódio aos seus irmãos negros do que o próprio senhor de engenho. Isto é o que passa nas entranhas do serviço público terceirizado por uma camada de ex-sindicalistas sob controle dos níveis intermediários do INSS. Não se reabilita, a suposta técnica onera a mão de obra e aumenta as chances das empresas evadirem o fisco, torna um suplício à requisição de um direito.

Fernando Henrique, no meio da turbulência do leilão do Sistema Telebrás afirmara que o Estado tem zonas cinzentas, incontroláveis e que assim procede qualquer Estado. Referia-se à chamada privataria, onde o país fora saqueado em seu sistema de telecomunicações. O mesmo passa hoje, mas nas estruturas de amparo e defesa do trabalhador.

O primeiro estoque de capital político de Lula fora gasto em agosto de 2003, ao aprovar as medidas iniciais da Reforma da Previdência. FHC, velha raposa do PSD paulista, lavara as mãos. Os 9 dedos de Luiz Inácio assumiram o comando do trabalho de liquidar por tabela o que fora uma construção de Estado-nacional. Entramos na segunda fase. A moeda de troca de 2003 foi o arquivamento da CPI do Banestado. Na ocasião, se e caso o governo quisesse, agarraria de calças na mão a toda a UDN, a começar por Herr Bornhausen. Não quis, o Mentor melou a investigação, punindo os peritos e delegados federais que encontraram o fio da meada das CC5. Qual seria barganha da vez? No dia 24, amanhã, uma marcha das oposições sindicais vai afirmar uma posição contrária a da reforma da previdência. Será a CPMF a barganha com a UDN e o PSD, ôps, perdão, com o DEM e o PSDB? Tenho quase certeza que sim.

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