O julgamento dos 40 envolvidos no caso do Mensalão traz à tona vários problemas de fundo para a concepção de esquerda no Brasil. Embora para quem vive da pretensa lucidez a trajetória do PT já esteja maculada, a hipótese do governo em disputa reanima pessoas, correntes, militantes e dirigentes populares. Quanto mais baixa a auto-estima e a confiança moral destas pessoas, mais leviana fica a luta popular no Brasil. Que dirá no Rio Grande do Sul.
Não é possível negar que o mandato de Luiz Inácio galvanizou uma série de esperanças legítimas na interna das esquerdas e do movimento popular. Quanto menor a definição ideológica, mais vínculos emocionais entre bases tibiamente organizadas e o ex-torneiro mecânico. Linguagens empregadas pela mídia política, como Núcleo Duro, governo em cerco, disputa intera entre o capital financeiro e o industrial, são determinações que não encontram eco no coração das pessoas comuns.
O escândalo da roubalheira, corrupção sistêmica. Ainda pior é o recrutamento de operadores políticos mercenários, reconhecidos pelo próprio Lula como “os 300 picaretas com anel de doutor”, o mui nobre Baixo Clero do Congresso Nacional da nação. Os efeitos a médio e largo prazo são impossíveis de ser mensuradas. Afetos e sentimentos movem multidões. Na era que pós-moderna, ou quase, a estética é uma bandeira de luta, a cultura e a identidade coletiva perdem espaço para o individualismo metodológico. Não existe utopia que não seja coletiva.
Este é o maior legado de José Dirceu e cia. O ex-exilado operou com mais eficiência em contra das esquerdas do que qualquer outro agente de inteligência atuando no período democrático.