Os momentos históricos passam e poucos se dão conta da oportunidade ausente. Com toda a sinceridade de análise, estruturalmente, os governos de Lula e FHC em pouco ou nada diferenciaram. Luiz Inácio pegou a tal “herança maldita” com ganas de torná-la um complemento de si mesma. Manteve o Bolsa Família, ampliou-o; manteve a Pedro Malan na figura de Henrique Meirelles; dividiu os ministérios mais visados entre homens de confiança da Banca, do Agronegócio, das grandes empresas de Comunicação e Teles, da Indústria e Comércio, dentre outros. Considerando a caracterização de disputas na interna do poder político cuja parcela majoritária está no Planalto, é disso que estamos falando.
A hora de bater firme, pesado, com tudo, foi durante o episódio de denúncias e espetacularização das CPIs. Isto, supondo, num duríssimo exercício de abstração, no intuito de entrar na mente dos operadores tucanos e pefelistas. A vacilação tucana e seu choque de regionalidade, irritou o PFL que, como todos sabemos, não tem limites para o acionar da política. Outrora com nome de UDN, deitou e rolou até derrubar o governo de João Goulart. Como parceiro de empreitada, além da CIA e da caserna protagonizando, os amigos de Lacerda tiveram um PSD temeroso além da conta com as políticas de reformas de base.
Jango ameaçara mexer na propriedade. No embalo, a baixa soldadesca alçou-se. Garganteadas à parte, realmente havia muito em risco. O jogo pesado acabou com os tanques. Em 2005, além do Planalto em si, pouco ou nada estava sob ameaça. Quando alguém é muito prudente, morre de velho e não sai do lugar. Com boa parte dos tucanos assim é: salvo exceções barulhentas, como o finado Serjão, Serra, e o braço direito (outrora de esquerda com E maiúsculo) Aloísio Nunes Ferreira. Passou o cavalo encilhado, disparado campo afora e ninguém montou.
A oportunidade da UDN/PFL derrubar mais um governo eleito teve seu momento ápice após o depoimento de Duda Mendonça e o delírio encurralado do senador Aloísio Mercadante. Esta foi a chance, e não agora, durante campanha eleitoral xôxa e onde as forças sociais mais atuantes estão ausentes, amargando a apatia da falta de luta. Luiz González e João Santana não são vão e talvez nem cheguem a ir à ponta da adaga. Alckmin teimou em concorrer onde não devia, estava destinado a ser senador vitalício e terminará o ano com uma sofrível e sofrida derrota.
Segundo registros históricos, algo que pude ler e ouvir, os discursos do Corvo Lacerda calavam fundo na alma dos brasileiros. Genial e reacionário, Carlos de Copacabana vira Mar de Lama onde havia e não havia lodaçal. Acreditava piamente em todas as barbaridades que dizia. Talvez seja a distinção; nunca precisou do PSD para fazer seus destroços e propalar as desgraças. Do “Cata Mendigo” aos túneis e desapropriações sem fins, Lacerda buscava a interlocução na caserna, e acabou por perdê-la e junto desta a vida. Ao contrario do ex-governador da Guanabara, os tucanos e o PFL não se entendem nem na hora de comemorar, que dirá nas delicadas e definidoras chances de tentar derrubar quem se tornara igual a eles.