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O nexo político-sindical na Argentina. A máfia contratista!

infobae

Hugo Moyano, dirigente dos caminhoneiros e atual secretário geral da CGT oficial, intermediário das negociatas oficiais da metrópole bonaerense. Homens como ele fazem de Paulo Pereira da Silva e Luiz Antônio de Medeiros, amadores na triste arte de trair a classe trabalhadora.

Bruno Lima Rocha – original datado de 02 de março de 2009, escrito do Centro de Buenos Aires, Calle Corrientes na altura do número 600, após o Elaopa da Arg. - Luján

Começo este artigo de forma genérica. Suponhamos um município da região metropolitana de uma capital latino-americana. Nesse município, a empresa privada que executa a coleta de lixo e a manutenção dos postes de iluminação pública ganhara a licitação debaixo da proteção de padrinhos políticos. Até aí nenhuma novidade. O interessante é saber que esse “padrinho” é o presidente de uma central sindical entreguista e de direita (CGT oficial, braço sindicalero da direita peronista) e que a relação da empresa ganhadora com o sindicato é de “aproximação e diálogo”. Isto, somado a uma prática de tipo máfia (patota, na gíria local) leva aos dirigentes da entidade representativa dos trabalhadores a defender mais a uma empresa privada que aos interesses de seus trabalhadores associados. Infelizmente, esta prática política é recorrente.

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O episódio narrado acima é real. A cidade chama-se Lanús e está no meio de Buenos Aires capital, no conurbano bonaerense. O sindicalista padrinho político da empresa Covelia S.A. é Hugo Moyano, homem forte da CGT e do sindicato dos caminhoneiros. O vínculo político-sindical é o uso do controle da força de trabalho com um acionar de tipo “patotero”. O caso aqui é narrado como exemplo da materialização de um conceito, o nexo político-sindical com perfil mafioso. Um exemplo dá-se quando o governo do prefeito kirchnerista Darío Díaz Pérez fecha um acordo com Moyano e assina um contrato que lhe rende 65 milhões de pesos argentinos (mais de 20 milhões de dólares) ao ano à empresa. Segundo o periódico Perfil, do domingo 1º de março, um total aproximado de 3,6 milhões de pesos (mais de 1 milhão de dólares) para o Sindicato dos Caminhoneiros (UOCRA, sindicato nacional) baixo controle direto do homem forte da burocracia de tradição peronista de direita. A fonte também não é “neutra”. É correto, o Grupo Perfil de Jorge Fontevecchia não joga a nenhum neutralismo nem nada por estilo. Mas, a informação é correta e os fatos são os fatos.

Também não o que afirmo é alguma novidade e se reproduz em 14 municípios da Grande Buenos Aires. E, sejamos justos, isto não começou agora nem tem vinculação exclusiva com os governos de Néstor e Cristina Kirchner. O problema é de outra ordem e vem de 62 organizações sindicais de confiança direta do ex-presidente e general Juan Domingo Perón. Foi a partir da influência de Evita que a base de direitos e instituições de amparo à classe trabalhadora argentina foram constituídas. Graças a María Eva Duarte é que o braço popular do peronismo existe e aponta ao protagonismo da classe trabalhadora. A outra pata do peronismo, cuja sinistra política interna nunca termina de definir-se, tem história triste e macabra.

Desde então, briga-a pelo controle e influência na força de trabalho do país é de vida ou morte. Para ter uma idéia do tipo de crise, a organização de muito má fama chamada Triplo A (Aliança Anticomunista Argentina), esquadrão da morte do governo de María Estela Isabel Martínez (de Perón) baixo o comando do bruxo López Rega, recrutava seus homens na barra brava do sindicalismo traidor. Não é por acaso que esta gente foi pouco incomodada nos anos de terror de Estado (1976-1983). Isto sem falar dos anos duros de guerra interna para além dos regimes de Onganía e Lanusse. À volta à democracia representativa, a CGT estava intacta e quase sem perdas, dentre os 30.000 mortos e desaparecidos.

Na Argentina, existe um padrão de aliança entre as elites políticas, os dirigentes sindicais e os sectores contratistas, que não muda. O modus operandi é do tipo criminoso e fortalece o nexo político-sindical, e é de fácil entendimento. A histórica Confederación Geral do Trabalho (CGT), reforçada sua existência como braço sindical oficial já no primeiro governo de Perón reproduz a lógica corporativista de aliar o capital ao trabalho e corresponder à força dos sindicatos com a representação política. Esta central é até hoje a única reconhecida pelo governo nacional e tem sua fonte de renda nos convênios oficiais, do repasse de dinheiro do Estado e do controle da caixa provisória de seus filiados.

Este país, que até sua última ditadura militar (1976/1983) tinha pleno emprego viu a sua mão de obra reduzida de forma drástica. As políticas de venda e saque dos bens públicos começaram com o ministro de Economia de Jorge Videla, José Martínez de Fouce e culminou em era-a Menem (1989/1998), com o desmonte da estrutura produtiva e a desocupação em massa. O fenômeno de criação dos movimentos de trabalhadores desocupados (os MTDs originais) vem desse período e tem seu ápice nos anos posteriores à rebelião popular de dezembro do ano 2001 quando o modelo ultra-neoliberal é derrotado baixo o lema de: “Que se Vayan Todos!”.

Ainda nesses piores momentos de desemprego em massa, marginalização e privatização selvagem, os chefes da patota da CGT não fizeram nada. Ao invés, sempre obedeceram a uma lógica própria de associação ao poder político e a sua aliança entre o capital e os dirigentes da classe trabalhadora. Por isso foram cúmplices no saque ao país. Um país produtor de alimentos para mais de 300 milhões de pessoas não pode ter mais de um terço de sua população baixo a linha de pobreza e passando fome. Em teoria, o sindicato organiza e defende a força de trabalho. Quando os dirigentes sindicais não ocupam seu tempo defendendo a seus filiados é porque jogam para a outra equipa. Quando estas pessoas fazem de sua fonte de renda os recursos provenientes das contribuições dos filiados, é porque formam uma máfia. E, como toda a máfia, se comportam de maneira antipopular e por isso são combatidos.

Neste caso, a patota do país irmão era um dos alvos permanentes das guerrilhas nos anos 60 e 70. Dirigentes como Augusto Timoteo “O Lobo” Vandor e José Ignacio Rucci foram justiçados em função de serem, de fato, sindicalistas sócios dos militares e dos patrões. A herança maldita segue. Para dar uma idéia, o próprio Hugo Moyano é acusado de ter feito parte da Triple A. Os melhores exemplos do sindicalismo argentino pouco ou nada têm a ver com a patota mafiosa, não é amiga dos Kirchner e nem aliada de qualquer abutre que ocupe da Casa Rosada. Na terra da Semana Trágica e da Patagônia Rebelde, a oposição sindical e a organização por local de trabalho construíram as bases da outra força. A melhor experiência, a herança bendita da história recente, encontra-se nos exemplos do Sindicato de Luz y Fuerza – encabeçado por gente como Agustín Tosco, na CGT de los Argentinos, com referentes da envergadura de Raimundo Ongaro, e no exemplo coletivo da classe trabalhadora então rebelde, alçando-se em barricadas no Cordobazo.

Estes sindicalistas não eram corruptíveis e, não por acaso, sobre estes militantes sindicais a repressão militar, com ajuda da patota de Moyano, pegou duro e golpeou forte.






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