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A vitória de Yeda e o choque de interesses


Professora de economia da Ufrgs, ex-participante da mídia local, Yeda Crusius inaugura uma nova fase da direita gaúcha. É o discurso da técnica colonizando os últimos bastiões de política tradicional.

2ª, 30 de outubro de 2006; Vila Setembrina dos Farrapos, Continente de São Sepé

A eleição do Rio Grande do Sul foi redefinida nos últimos dias. Partindo de uma vantagem absurda, a coligação Rio Grande Afirmativo (PSDB-PFL-PPS) chega ao Piratini com 53,94% dos votos válidos. A coligação da Frente Popular (PT- PC do B), fez 46,06%. Não foi suficiente para derrotar a chapa declaradamente neoliberal, mas muito além das previsões iniciais.

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Isto porque, segundo a maioria das pesquisas, a professora de economia da UFRGS, Yeda Crusius, arrancou para o 2º turno marcando mais de 30 pontos de diferença. Por apertados 8 pontos percentuais, o estado mais ao sul do país vê pela primeira vez em sua história a uma mulher chegar ao governo. A chapa apresenta outra inovação, que é a presença direta do Sistema Fiergs, com o ex-presidente da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul), Paulo Afonso Feijó, pondo a cara na frente e quase complicando uma eleição apertada pela própria natureza.

As novidades não param por aí. Ao contrário do restante do país, as siglas do PSDB e do PFL sempre foram legendas menores no subsistema político gaúcho. No Rio Grande do Sul prevalece a política de dois campos de influência, e também a tradição das legendas. Neste item, o PSDB substitui a um pedaço do PMDB e o PFL, respectivamente, a uma parte do PP do Rio Grande. É certo que tanto o PSDB como PFL, já participaram de governos anteriores, mas nunca na cabeça de chapa.

Agora duas vontades se encontram, como o receituário do médico e as propriedades da droga recomendada. Yeda é uma professora de economia portadora da crença em mais uma modernização conservadora. Feijó é um ator individual embora oriundo direto da oligarquia gaúcha, orgânico de um agente político agressivo como setor de classe. O empresariado local vê nele uma jovem esperança, homem de arroubos públicos, declarações sinceras e diretas, bem ao estilo de Carlos Esperotto, presidente da entidade ruralista Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).

Aliás, esta é outra inovação na concorrência ao Piratini. No que depender de seu vice-governador, e leia-se, dos agentes econômico-políticos representados por este, não haverá meias-palavras nem tampouco meia-medida. Margaret Thatcher quando assumiu declarou de forma enfática: “Não existe alternativa!” Para acionar esta forma de fazer política, as pré-condições serão buscadas incessantemente.

Os problemas operacionais começam justamente nestas buscas de pré-condições. Isto porque, a estrutura política para a vitória veio muito pela migração automática dos votos de Rigotto para Yeda. Observando os índices finais do 1º turno, Germano Rigotto vencera em 161 municípios, Olívio em 124, Yeda em 20, Turra em 10 e Grill em somente 1. Para o 2º turno, com o PP/RS aliado incondicional da coligação Rio Grande Afirmativo, Yeda vence em 360 e Olívio em apenas 136. Ou seja, a transferência de votos do co-governo do PMDB foi direta para Yeda. Esta conta será paga na negociação de apoios políticos, participação em secretarias e na manutenção dos empreendimentos de envergadura com os quais o atual governo já se comprometera até a medula.

A conta eleitoral do PMDB não termina aí. Rigotto foi atingido em cheio, por estimativas equivocadas e nas críticas diretas feitas por Yeda a seu governo. O detalhe desta troca de farpas, e já ressaltada em artigos anteriores, é que o vice-governador eleito em 2002 era tucano. A chapa do PSDB para o Piratini na eleição anterior, repetia tal como agora, a aliança nacional para a corrida ao Planalto. O modus operandi se mantêm, assim como a política do co-governo. Neste quebra-cabeça, entra na montagem o papel jogado pelo senador Sérgio Zambiasi e sua sigla, o PTB/RS.

Como evidência deste trabalho, vemos as margens apertadas de vitória de Olívio em colégios eleitorais relevantes da Região Metropolitana e do Vale dos Sinos. A Frente Popular ganhou em Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo, Viamão, Alvorada, Esteio, Sapiranga. Mas, o candidato do PT não ultrapassou os 60% de votos em nenhum destes municípios, a não ser em Sapucaia do Sul. O jogo parelho deve-se a máquina do PTB posta à disposição de Yeda, e a ausência de militância voluntária da esquerda eleitoral gaúcha. O aperto não pára aí, sendo que as vitórias no porto de Rio Grande (Litoral Sul) e em Passo Fundo (Planalto Médio), não permitem margem para compensar derrotas crassas em algumas regiões e municípios-chave.

Já o PSDB conseguiu margens de mais de 60% em algumas cidades com grande colégio eleitoral. Dentre elas, os tucanos ganham de lavada na Serra, vencendo em Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Farroupilha. Além destas, abrem boa margem em Santa Maria (Centro do RS) e Guaíba (Metropolitana). Ainda vencem de forma apertada em duas cidades metropolitanas que são redutos históricos do PT, Gravataí e Cachoeirinha. Há de se considerar também o fato de Yeda haver chegado à frente no município de Novo Hamburgo (Vale dos Sinos) e em Pelotas (Litoral Sul). Esta última vitória deve-se ao PPS/RS e sua presença com o prefeito licenciado Bernardo de Souza.

A derrota de Olívio Dutra e Jussara Cony vem ligada a uma série de fatores. Dentre eles, destacamos três como estruturantes. O primeiro é a derrota de Lula no RS, algo inédito em termos de política gaúcha. O Rio Grande tem uma tradição de votar na esquerda em nível nacional. Pode-se argumentar que esta tradição se contrapõe com outra, que é a de ser oposição. Embora tenha sentido, contraponho esta faceta do comportamento político gaúcho com a falta de identificação do governo central com as bandeiras clássicas defendidas por uma esquerda com tintas reformistas. Ao contrário, quando mais se avançava nos escândalos, involucrando inclusive operadores políticos do PT local, mais o eleitorado gaúcho se afastava de Lula.

Um segundo fator de destaque para esta derrota foi à ausência de militância direta e voluntária nas ruas das grandes cidades. Para compreender o fenômeno, a Frente Popular contava com militância apoiada na participação eleitoral não refletida em maior organicidade nem em atuação em entidades de base ou do movimento popular. Este perfil de ativismo político esporádico, sempre deu o fôlego nas vitórias eleitorais anteriores. Mas, com os escândalos de mensalão e sanguessugas em cima, ficou pesado o fardo de carregar a bandeira da candidatura de Olívio. Isto por mais que o ex-dirigente do Sindicato dos Bancários afirmasse ser a favor da punição a seus correligionários e de ter a ficha relativamente limpa, à exceção da CPI da segurança pública durante seu governo (1999-2002).

A ausência desta militância foi geradora também do terceiro fator. Este, iniciado com o fato político gerado a partir da difusão das primeiras pesquisas de intenção de voto para o segundo turno, somado ao desânimo das bases petistas e o trabalho do PTB/RS em municípios redutos do PT na Região Metropolitana e eis a consolidação da derrota.

Consumada a eleição, Yeda Crusius agradeceu nominalmente ao PDT, PMDB, PTB e PP. Os dois primeiros não apoiaram oficialmente a coligação Rio Grande Afirmativo, mas de fato apontaram parte da máquina, das bases, além de importantes individualidades para a vitória da nova composição da direita gaúcha. PSDB-PFL e PPS chegam do 1º turno junto a oito siglas nanicas e sem relevância. Somando aos aliados de última hora e os apoios táticos peemedebistas e pedetistas, e se avizinha outro co-governo.

Resta saber se a ampla composição de forças, eixo da política gaúcha atual, irá disparar a energia política necessária para realizar o choque de gestão prometido por Yeda e Feijó. Do outro lado da calçada, o funcionalismo, os sindicatos e os movimentos populares, já atados com o Pacto pelo Rio Grande, o ajuste fiscal, o tarifaço e a crise da dívida pública, se veraõ ainda mais embretados entre o neoliberalismo declarado e o “apoio crítico” a um governo central distante e com suspeitas fortes de corrupção.

A resposta para estes amplos e contraditórios setores da sociedade gaúcha está na equação entre, a apatia do discurso lavado e a necessidade de defesa dos interesses diretos.

Artigo originalmente escrito no blog de Ricardo Noblat






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