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Analisando o Varguismo tardio na campanha de 2014: uma crítica por esquerda ao lulismo

matosuniao

Lula e Vargas se assemelham na melhoria das condições de vida, na promoção de um grande pacto social baseado na conciliação de classes, no angariar de ódio ideológico da direita mais alinhada aos EUA e por fragmentar ou perseguir a esquerda existente.

Bruno Lima Rocha, 24 de setembro de 2014

 

A campanha se aproxima do final do 1º turno e apresenta um interessante momento para fazer análise a partir de posições definidas. Como se esperava, a tendência de centro-esquerda do governo de coalizão tenta organizar uma defesa inexorável do lulismo e ampliar sua base de apoio. Para demarcar a distância da esquerda não eleitoral para com a situação, escolhi fazer uma crítica (rápida e pública) ao texto do jornalista Beto Almeida, publicado no excelente portal governista Carta Maior. Publicado com o título de “A presença de Vargas na eleição de 2014!”, datado de 20 de setembro de 2014, o texto traz comparações plausíveis entre o lulismo e o varguismo tardio. O autor, Beto Almeida, é o representante da Telesur no Brasil e um respeitado jornalista. Assim, o debate que segue não é de tipo destrutivo e, embora não concorde sequer com seu paradigma inicial, o manteremos em tom respeitoso em função da trajetória do autor que é objeto de crítica.  

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Varguismo, lulismo e a derrota da esquerda nas frentes sociais

 

Por incrível que possa parecer, concordo com a caracterização de Beto Almeida quanto à presença da herança do varguismo na disputa deste ano. Inicio a reflexão concordando com a característica e discordando da solução encaminhada. Getúlio veio da oligarquia positivista, flertou com o fascismo e em sua última fase o nacionalismo colocou o Estado como centro do desenvolvimento capitalista. O último governo Vargas deu-se no meio da Guerra Fria, no auge da bipolaridade, alinhando a direita brasileira com a Casa Branca e a superpotência do ocidente. Como contrapartida, o trabalhismo posiciona-se mais à esquerda, sendo sua herança política direta esgotada apenas com o AI-2 e o fechamento de todos os partidos políticos.

 

Já o lulismo, a nova versão do varguismo-trabalhismo, veio da esquerda autêntica, do reformismo radical (tensionando a institucionalidade no período da Abertura) e terminou como a baliza do pacto de governabilidade. À direita do lulismo, estão as sequelas do neoliberalismo no Brasil; à sua esquerda, o que restara das correntes ainda eleitorais (reformistas radicais, como PSOL, PSTU, PCO, PCB) e a extrema-esquerda (libertária, maoísta, autonomista, difusa) que ganhou as ruas em 2013. O lulismo e seus herdeiros se focam no manual da democracia indireta atravessada pelo tema do poder. Assim, o controle do Poder Executivo e o poder de eleger campeões nacionais é o básico para qualquer desenvolvimento capitalista semi-autônomo. Pode ser melhor do que a via neoliberal direta, como a chapa tucana “puro sangue”, com o PSDB trazendo Aécio Neves, o ex-quercista Aloysio Nunes Ferreira e a mão de ferro do capital financeiro com Armínio Fraga. Também é uma proposta menos perigosa para os bens materiais das maiorias como a linha ou disfarçada, através de Marina Silva (a reboque do acaso com a queda do avião de Eduardo Campos e as esperanças do PSB que nele estavam, apontando em 2018), trazendo a “consultoria” de Neca Setúbal, Gianetti da Fonseca e cia. Mas, está bem distante de qualquer opção à esquerda. O padrão continua. Vargas reconheceu os direitos do trabalho e acabou com os sindicatos livres. Lula incluiu mais de 44 milhões de pessoas no mundo do capitalismo e esfacelou a esquerda brasileira. 

 

A defesa do indefensável pacto de governabilidade e do presidencialismo de coalizão

 

Parece piada, mas novamente o homem da teleSUR justifica a aliança com setores da oligarquia brasileira como a inevitabilidade de fazer o possível dentro do tempo exíguo e respeitando as bases do presidencialismo de coalizão. Alega que a irritação dos que denunciam a aproximação dos ex-reformistas do PT com Renan Calehiros, José Sarney e cia. é uma espécie de cegueira de classe média, que impede ver os progressos sociais do Brasil. Nada pode ser mais absurdo. Por esta lógica, o regime de Franco seria parcialmente positivo, pois enquanto amparava os direitos materiais do trabalho, também negava toda e qualquer liberdade sindical. É a velha lógica de tentar sobrepor uma contradição sobre outra, onde o avanço material inegável - embora pífio diante da desigualdade e acúmulo de poder por parte dos dez maiores conglomerados econômicos e das 15 famílias mais ricas - além do entra e sai de especuladores - justificasse qualquer coisa.

 

Trata-se do raciocínio de um leninismo torto. Se na reprodução da linha bolchevique já era difícil justificar a ideia de “um passo para trás, dois para a frente”, agora é indefensável pensar que a única saída válida pensa como “um passo para frente e dois para trás”. , Esta política de fim de feira de distopias casa perfeitamente com a mentalidade menchevique dos arrependidos de '68 e de '78, na fusão entre a nomenklatura tupiniquim e os ex-autênticos do sindicalismo. Para distribuir um pouco de renda abriram mão de disputar o poder na sociedade. Agora, penam contando voto a voto concorrendo com os arrivistas dissidentes e seu ex-partido auxiliar.

 

Como governar sem os meios de comunicação ou ao menos uma parte considerável destes?

 

Se há algo que concordo com o varguista tardio Beto Almeida é no fato da coligação liderada pelo PT ter desistido do poder na sociedade ao não tentar criar um meio - ou vários meios - de se comunicar com quem está desorganizado. A internet e as redes sociais, como sabemos, são um lócus excelente para quem está vinculado de alguma forma. Mas, para quem está solto tem de ser atingido por um veículo de comunicação em escala empresarial - ou uma fundação (de preferência, ou algo do gênero) - mas com envergadura para disputar consensos sociais. Quem não pensa na democracia da comunicação social tampouco crê na democracia direta de massas. Os que optam pela via indireta da democracia representativa e caem na loucura de não contar com veículos de comunicação potentes, também não fortalecem a democracia em sentido amplo. Tal é o caso dos três governos do PT e seu papel repressor ao movimento de rádios comunitárias e a escolha pela forma-empresa e a notícia como mercadoria para o jornalismo e a mídia brasileira. 
 

Nem Getúlio e menos ainda a ditadura fizeram tamanha besteira. Vargas tinha a censura através do DIP, uma relação de amor e ódio com os Diários Associados e em sua última fase, a mais interessante, um grupo de mídia a seu favor. Seria impensável a fase nacionalista de Vargas sem o papel do jornal Última Hora e sua rede de impressos estadualizados. Samuel Wainer operava fazendo eco e coro ao varguismo-trabalhismo, além de tentar se aproximar de elites não reconhecidas (como nas colunas sociais da zona norte do Rio de Janeiro). Já os militares, tanto a linha dura como a turma da ESG, tinha tanto o aparato da censura como os meios de comunicação leais ao regime de terror de Estado.  O governo Médici, o pior de todos, contava com apoio irrestrito de complexos empresariais como Rede Globo e Grupo Folha da Manhã. O partido de governo,  embora aliado de coronéis da comunicação, não tem nada nem parecido vindo das cabeças de rede.
 

O lulismo, como herdeiro do varguismo tardio, não tentou essa competência, fazendo um jogo de aproximação tímida com alguns conglomerados de mídia. Assim ocorre com o Grupo Alzugaray (Editora Três - Isto É) e com o SBT. O sistema de mídia da família Abravanel fora beneficiada na operação de 2010 que salva o Grupo Sílvio Santos e saneia com recursos da Caixa Econômica Federal ao Banco Panamericano, agora com o nome de Pan. Já o empreendimento econômico-comunicacional de maior envergadura e mais alinhamento é a Record e seu controlador e aliado, "bispo" Edir Macedo; este por sinal recrutara ex-globais de ponta para bater à vontade para quem está à direita do governo. De melhor qualidade, dotada de uma linha crítica – tanto da mídia como dos consensos neoliberais – e mais reconhecida por sua capacidade analítica, temos a internet e publicações alinhadas com o governo. São bons exemplos desta fatia da mídia a Carta Maio, Carta Capital, Revista Fórum, dentre outros semelhantes. 

 

O mito e a caça aos votos
 

A internet se expandiu no Brasil e dá a impressão de bastar para gerar consenso. Ledo engano, pois os consensos em sociedades fragmentadas dependem da escala industrial de produção simbólica, e nisso a centro-esquerda e ainda mais a esquerda restante está anos luz do bloco hegemônico da direita ideológica. O lulismo pode não sobreviver a esta fratura e briga voto a voto com sua dissidência ainda mais lavada. Agora a sorte está lançada e a reeleição torna-se mais apertada e nada segura. 

 






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