Rompo um pouco a tradição iniciada com estas Notas feitas primeiramente para o portal de Claudemir Pereira. Desta vez proponho um debate sem hiperlinks e mais reflexivo. Vamos conversar sobre as fontes de uma investigação, em especial de uma, nova e muito utilizada, o portal de relacionamentos orkut.
Em qualquer manual de investigação, seja jornalístico, policial ou de espionagem, a primeira fonte é a primária. Esta é, por definição, aberta e pública. Ao lado deste conceito, está uma caravana e um oceano de informações. A própria mídia, a grande, com M maiúsculo e com verbas ainda maiores, torna-se fonte primária para apurar a vida, hábito, padrão de consumo e outros aspectos da vida de cada um.
Dentre as novas Tecnologias de Informação (TICs), os softwares que geram interatividade, incluem-se os portais de relacionamento. Podendo ser acionados de suportes com acesso a internet, a invenção da mega-empresa Google, chamado Orkut, torna-se fonte e prova judicial.
Recordo quando o espaço virtual ainda era apenas para comentários post-factum. Assim, o debate porterior a notícias, fatos e vivências na web, isto a partir do mundo físico. Em pouco tempo, a lógica se inverteu e a mídia jornalística da web supera o rádio, não em abrangência, mas no instantâneo. Com isso, o fato político, pode se tornar fato jornalístico e dependendo do volume, a circulação pela rede mundial de computadores já basta. Hoje, apurar o orkut de envolvidos com causas e casos policiais é norma.
Vejamos a breve coletânea. Uma desgraça da vida e dos sentimentos ocultos. Um professor de música, com mais de 30 anos, e sua aluna de 13 anos, se matam em um motel do bairro Agronomia em Porto Alegre. Em seus perfis no orkut, todos os indícios do amor passional. Os jovens que agrediram a doméstica no bairro da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro tiveram seus perfis no Orkut vasculhados pelos repórteres e pela polícia. Um largo dossiê, incluindo portais e debates no orkut, foi anexado pelas entidades em defesa da regra das cotas na UFRGS. Acabo de ver na TV, que a bandeirinha de futebol Ana Paula de Oliveira capa da revista Playboy de julho, teve o lançamento da edição cancelado no Rio em função de ameaças no orkut.
Vejam o paradoxo, em pleno Rio de Janeiro, sob controle federal em função dos Jogos Panamericanos, e ao mesmo tempo, com mais de 600 áreas sob controle não-estatal, um lançamento nacional é cancelado por ameaças em orkut! Por momentos, a ameaça torna-se paranóia, mas a possibilidade de ameaças ganha perfil de divulgação. Não posso deixar de reconhecer, a novidade é perigosa, mas também é criativa.
Nota originalmente publicada no portal de Claudemir Pereira