17 de janeiro de 2016, Bruno Lima Rocha
Na metade de janeiro de 2016 tive uma conversa através de rede social – no privado – com um amigo de longa data, morador do estado de São Paulo, e profundo conhecedor da política local. Este conhecimento inclui importantes municípios como Santos, Campinas, Guarulhos, a região do ABCD, assim como do poder municipal em São Paulo capital, e óbvio, o Palácio dos Bandeirantes. Além de acadêmico, este militante com muita experiência notou o avanço da repressão policial contra as marchas organizadas pelo Movimento Passe Livre (MPL) e entidades aliadas. As palavras a seguir são de fonte segura, e podem ser lidas como uma suposição – já que não tenho a prova material – ou como uma hipótese bastante provável, que é como eu as encaro. Eis a fala deste amigo:
“Fala Bruno, sobre a repressão em SP, uma amiga que trampa no governo bem próxima de quadro tucano disse que a tática é apavorar prá esvaziar os atos e deixando só os mais mais aguerridos, aqueles que justamente pela bronca acumulada tenderiam a se tornar mais violentos e “justificar” a posteriori a repressão pelos “vândalos”. Enfim, a ideia central é evitar que massifique.”
“Aliás tem a orientação de bater muito, mas evitar sangue, braço quebrado, coisa que a mídia possa escandalizar. Claro que é duro calibrar isso numa tropa com sangue nos olhos. Também tem a orientação de “respeitar” apenas jornalistas da grande mídia. Blogs, independentes, etc são considerados ativistas e receberão o tratamento de militantes.”
“Novamente é difícil seguir isso à risca, pegaram pesado com jornalistas do UOL e da Gazeta esses dias. Os caras estão tentando ficar num grau de violência suficiente prá dissuadir, mas não tão alto que escandalize a mídia e gere solidariedade massiva como em 2013.”
Queria aportar uma breve reflexão. Infelizmente a maior parte da esquerda restante – nem incluo mais a base do governo e as tradições do lulismo, stalinismo e trabalhismo – conhecem pouco ou nada da interna do aparato repressivo e oscilam entre a denúncia e a fracassada tentativa de arregimentação. As políticas de segurança pública, o funcionamento interno destas corporações militares ou civis, os códigos de lealdade, o emprego da violência oficial e do Terror de Estado (como é o caso do acionar policial nas áreas de favela ou periferia) devem ser um tema da ordem do dia para quem quer analisar e transformar este país. O período do lulismo não fez nada ou quase nada a este respeito, deixando o entulho autoritário praticamente intacto.
Alianças espúrias com oligarquias estaduais e falta de coragem política levam a este abandono de debate. O mesmo se dá na relação com as forças armadas e especificamente com o exército de Caxias. Trago esta reflexão porque o caminho mais fácil seria responsabilizar o governo tucano paulista pelas atrocidades, sem levar em conta, por exemplo, as barbaridades e atrocidades cometidas pela PM baiana já no comando do terceiro governo petista. Não se trata necessariamente de uma relação belicosa e repressiva do governo dos Bandeirantes, haja vista o acionar da Brigada Militar em 2013 sob governo do ex-comunista profundamente arrependido, Tarso Genro. Até presos políticos tivemos na província, sendo que há seis processados e um condenado em primeira instância.
É urgente avaliar a relação permanente entre os governos estaduais e o aparelho repressivo sob seu comando, mas nunca sob sua inteira lealdade. Não é nada difícil a autonomização dos corpos tecnoburocráticos, em particular no caso de forças policiais. Estudar este comportamento e tomar esta medida na promoção de lutas justas e massivas é tarefa urgente para reconstruirmos o pensamento e a ação da radicalidade de esquerda em defesa do interesse das maiorias no Brasil.