A nota abaixo vai ao encontro de uma das propostas da página. Queremos chocar parte da opinião pública, em especial dos chamados formadores de opinião com independência de pensamento e matriz teórica distante do neoliberalismo. Torna-se cada vez mais difícil em tempos que a “ciência humana e social” colecionam sofismas e discursos com meias-verdades visando a legitimação das medidas anti-populares. Piora a situação ao vermos os paradigmas de esquerda latino-americana ser muito mais elemento folclórico do que teórico para as “esquerdas” brasileiras. Publiquei no Noblat e republiquei aqui como sempre o faço há mais de 2 anos um artigo que tratava das gestões de Aod Cunha no contrato de novo empréstimo do Banco Mundial. O tema rendeu. Um dos que comigo concordaram é uma pessoa que construiu sua carreira dentro da malha impositiva do governo estadual.
Correio de João Pedro, fiscal aposentado do estado:
“Bruno,
tomei conhecimento do teu site pelo blog do noblat e li o teu artigoa dívida estadual e dependencia. Estou enviando o artigo que mandei para os meus amigos, pois também penso que este empréstimo trará um novo gestor para as políticas públicas do RGS para os proximos vinte anos além de detonar as finanças gaúchas.”
O EMPRÉSTIMO DO BANCO MUNDIAL
Pela importância, a matéria merece maior debate, pois muitas questões carecem de respostas.
Uma, em especial, é muito intrigante: como pode um banco oferecer o dobro do empréstimo solicitado após declarar que o cliente está falido?
Estaríamos revelando um "banqueiro bonzinho" naquele que muitos julgam ser o braço do Tesouro norte-americano para monitorar a emergência de concorrentes?
Segundo notícias, o empréstimo será em dólares e terá prazo de vinte anos.
Faltam dados:
1) qual será a influência do banco na gestão do RGS?
2) o contrato conterá cláusula de equilíbrio econômico-financeiro?
3) onde será aplicado o valor?
4) o Governo está preparando operação de hedge?
5) quem arcará com os custos das desvalorizações do Real?
O Dólar fraco de hoje deveria impulsionar a quitação dos atuais empréstimos contraídos nesta moeda; ainda é presente o cataclismo que se abateu sobre a economia nas décadas de 70 e de 90 quando a nossa moeda também estava sobrevalorizada e o endividamento em Dólar era incentivado.
A desvalorização do Dólar, que visa reduzir o déficit da balança comercial norte-americana, foi programada e imposta aos demais países pela força dos mercados norte-americanos.
A dependência é tanta que chega a impedir até reflexões sobre uma alteração forçada nas regras do jogo, já que isto provocaria o colapso da economia mundial. Esta hegemonia outorga ao Dólar as categorias de parâmetro e de reserva internacional, definidoras da economia dominante.
Aliás, hoje os EUA são mais poderosos do que nas décadas de 40, quando eles acabaram com o padrão ouro (Bretton Woods), e de 70, quando declararam o fim do câmbio fixo, impondo o "padrão dólar". Portanto, é delírio pensar que os EUA permitirão ameaças a sua moeda.
Enquanto durar o ajuste na balança comercial, o Tesouro norte-americano manterá o dólar enfraquecido, porém ao menor sinal de que os Bancos Centrais dos países ricos estiverem sonhando em migrar as suas reservas para nova(s) moeda(s) é absolutamente certo que os EUA utilizarão o poder da sua exuberante hegemonia econômica/militar para manter os privilégios que o "padrão dólar" lhe concede.
Neste contexto, tomar empréstimo em dólares é mandar o futuro do RGS às favas; será uma irresponsabilidade igualável a da "negociação" da dívida do RGS com o Governo Federal, que também foi festejada como a "salvação da lavoura".
Um abraço.
João Pedro Casarotto, 57 anos, Porto Alegre-RS, contador, Fiscal de Tributos do Estado aposentado, dirigente do Sintaf-RS e ex-dirigente da Afisvec.
Comentário meu ao final. No campo da política, como pode um agente inferiorizado apostar seu futuro e destino na relação com outro agente superior em capacidade de barganha e com uma correlação de forças muitas vezes superior ao RS? Mais. O estado não tem uma baliza e um fiador, considerando que o Governo Central opera como cobrador, em nome dos credores, a honrar compromissos perdulários com os juros extorsivos de uma dívida já mil vezes paga. Levando em conta esses dois fatores, o único raciocínio lógico que podemos compreender é: A União atira as combalidas finanças do RS para o colo e cofre do Banco Mundial. Para não perder posição na barganha interna (nacional), prefere-se ajudar a desnacionalizar ainda mais a economia financeira dos estados. Triste papel de governo “nacional”, de qualquer “governo”, em qualquer turno.