Na quarta-feira 23 de Maio, boa parte do país acordou com mobilizações. Fruto do Encontro Nacional de Lutas Contra as Reformas, realizado em São Paulo de 23 a 25 de março deste ano, a hoje possível unidade de categorias, setores, movimentos e centrais sindicais foi e é duramente construída. Certo é que na província os atos foram mais tímidos. Não cortaram estradas com troncos incendiados, como em São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco. Também ninguém entrou em usina de energia, como na tomada de Tucuruí pela Via Campesina encabeçada pelo MST.
A agenda local foi marcada pelas lutas dos municipários de Porto Alegre e de Cachoeirinha. Somaram às campanhas, estudantes e sindicalistas (da Intersindical e Conlutas), além das duas colunas que saíram no meio do Congresso do Cpers. Marcando a diferença, a CUT puxou um ato e as duas coordenações mais à esquerda unificaram no Paço Municipal e no INSS. Ao contrário da atuação no Norte e em São Paulo, o MST não se mobilizou com força.
Entender o alcance da possível unidade passa pelo debate que grassa o maior movimento popular da América Latina. Não existe um dirigente que rivalize com João Pedro Stédile em nível nacional. Ainda assim, sua postura não é unanimidade. Bem mais à esquerda, o paranaense radicado em São Paulo, Gilmar Mauro, participou do Encontro sindical e social em março e manteve a posição nas medidas de luta em maio.
A divergência de posições políticas na direção reflete uma idéia de realinhamento político. O debate é de fundo e vai além do apoio crítico ou oposição ao governo Lula. Boa parte dos militantes dos movimentos do campo, da cidade e de das pastorais sociais debatem internamente uma outra possibilidade de organização política. Algo que tem o conceito de instrumento político e passa bem longe da disputa eleitoral.
Enquanto o MST não se define, o epicentro do choque de interesses e projeto estratégico para o país e o Rio Grande passa pela regulação do meio ambiente. Em nível nacional, a greve dos servidores do Ibama combate a Medida Provisória 336/07, que divide o Instituto entre fiscalização (com o nome de Ibama) e conservação, como Instituto Chico Mendes. No estado, o destravamento das licenças ambientais, antes do zoneamento, atinge diretamente a Fepam e o sindicato que defende seus funcionários, o Semapi.
Ambas as lutas aproximam os servidores públicos federais e estaduais, com alto nível técnico, e os movimentos Sem-Terra e dos Atingidos por Barragens (MAB). Ou seja, as espinhas dorsais tanto do sindicalismo como dos movimentos populares podem ter um ponto de convergência. Para evitar a aproximação dos setores em luta, operam a lógica eleitoral, a ambivalência da direção da CUT e a lealdade com o governo Lula. É um caso clássico da política aplicado na base mobilizada de nossa sociedade.... Chama-se choque de lealdades, e caso prevaleça o sentido de pertencimento popular, o segundo mandato terá vários problemas para enfrentar.
Artigo originalmente publicado na Revista Voto, Ano 3, No. 33, Junho de 2007, pág. 49