Tem colega analista que abusa do cinismo, em especial quando se dirige a um determinado público supostamente qualificado. Para evitar mais incomodações legais, que afinal são pura perda de tempo, vou dizer o milagre e não o santo. A essência da Nota é a crítica da manipulação do conceito na forma de preconceito.
Exemplifico com a constatação óbvia de que os textos, artigos, notas e teoria que produzo não tem como pressuposto nenhum verniz de direita. Mesmo assim, não posso ter a idéia inválida de desqualificar o argumento de um outro analista mais à direita (como estão à imensa maioria) com opiniões embasadas em subterfúgios de preconceito. Devo e posso combater conceito contra conceito, desconstruindo ou tentando fazê-lo. Na ausência desta possibilidade, basta o contraponto. Mas, seria absurdo desfazer o processo de pensamento não levando em conta suas premissas e sua exeqüibilidade.
Ou seja, não posso dizer que a idéia de um candidato é “mágica” ou “fantasiosa” pelo simples fato de eu não acreditar em sua consecução. Posso e devo perguntar como o candidato pretende fazer o que diz, porque e através de quais processos. Em todos os campos ocorre o preconceito qualificado, mas onde as “idéias pensáveis” mais operam, como aponta Chomsky, é justo na chamada política econômica. A taxa de juros torna-se um se animado e temperamental mutante, e quem ousar defrontá-la com outra proposta, menos monetarista e mais produtivista, será taxado de louco!
Que um opositor a esta política utilize este argumento, o da loucura, é algo deplorável embora compreensivo. Mas, que em nome de uma técnica especializada, afirmemos a uma idéia contrária como “louca”, isso sim beira a canalhice intelectual. Dei o exemplo da famosa taxa de juros, mas poderia abordar outro tema de suma importância. O comportamento termina sendo tão tétrico quanto.
O recado foi dado, quem vestir a carapuça que se apresente.