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O mensalão e a origem da crise das esquerdas


Quando a redenção da esquerda passa pelas cortes de tribunais e procuradorias, é sinal de que a crise é muito mais grave do que as palavras de acusação de Antônio Fernando de Souza,.

4ª, 29 de agosto de 2007, Vila Setembrina dos Farrapos, Continente de São Sepé

O julgamento dos suspeitos de corrupção ativa e passiva através da compra de votos de parlamentares, mais conhecido como “Mensalão”, nos traz uma reflexão de fundo. Não quero entrar no mérito da causa, apontando ou refutando provas. Tampouco analisar os discursos de advogados de defesa, da acusação do Ministério Público Federal ou do julgamento dos ministros do Supremo. Estes temas já são mais do que abordados na mídia brasileira. Quero abordar o debate conceitual e de estrutura, do que leva à perda de controle e corrupção de dirigentes político-partidários com trajetória na esquerda.

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Antes que os aguerridos leitores deste blog comecem a especular sobre minha afiliação político-partidária explicito minha posição. Para mim houve Mensalão e os responsáveis devem ser severamente punidos. Entendo a corrupção como endêmica, mas também imputo aos indivíduos uma capacidade de escolha na política. Ou seja, como dizia o poeta espanhol, quem faz o caminho são os caminhantes. Não estou aqui para defender de forma indireta a José Dirceu e companhia. Muito pelo contrário. Faço a crítica e condenação do politburo petista desde um ponto de vista à esquerda.

É justo deste ponto que quero começar. A presença de partidos com origem nas esquerdas e o envolvimento em casos de corrupção não é uma novidade no mundo. O senso comum crê que a prática de atos ilícitos é algo exclusivo dos partidos de direita, particularmente da brasileira. Ledo engano. Diversos fatores levam à corrupção, e um deles, depende necessariamente dos correligionários. Explico.

Quando estávamos no período da “abertura” lenta, gradual e restrita, um debate de fundo e com vigorosa base social grassava no movimento popular do país. Animava a reorganização político-social uma postura anti-estalinista, na defesa incondicional da democracia interna e controle dos dirigentes por suas bases organizadas. Em termos de teoria democrática contemporânea, estas posições conformam a defesa da democracia participativa, deliberativa e direta em oposição à democracia indireta, representativa e delegativa. Assim, a figura do político profissional era execrada. Aos poucos, foi sendo tolerada, e logo após torna-se um desejo e anseio como projeção de vida.

Mas, na década de ’80, as coisa ainda não estavam neste ponto. Na trajetória da esquerda, a experiência de frente única da social-democracia européia dos anos ’30 ganhava rumos mais radicalizados e populares na América Latina. Naquela conjuntura, do início do ascenço do neoliberalismo, o stalinismo vivia em crise mundo afora. Já a América Latina saía de um ciclo de ditaduras. Três países centro-americanos, El Salvador, Nicarágua e Guatemala, experimentavam mais de uma década de guerras civis e unidade política, legitimada pelo movimento popular e fundamentada na Teologia da Libertação. No Brasil, esse perfil ganhou outro tom, de participação popular e luta institucional, galvanizado no Partido dos Trabalhadores (PT). Um leitor desavisado pode se perguntar qual a relação da luta da redemocratização e o Mensalão? Digo que tem toda relação.

Um dos princípios da democracia socializante, ou de esquerda, é o controle das bases sobre os dirigentes. Este era um tema sagrado na interna do PT, entre suas distintas correntes. Isto até a derrota na eleição de 1989, quando Luiz Inácio perdera para Fernando Collor. A partir daí outra lógica começara a imperar na interna do maior partido político da América Latina.

A formação do Campo Majoritário dá-se na dissolução das correntes, na liberação a tempo completo de militantes profissionais e na tomada de postos-chave do Estado. O mesmo ocorrera na Izquierda Unida (IU) peruana do início da década perdida. Os partidos políticos na interna da IU se dissolviam dentro da legenda eleitoral. A direção torna-se profissional e permanente. A “esquerda” do país incaico crescia eleitoralmente e promovia alianças com o partido de Haya de La Torre e Alan García, o APRA. Já em 1985, os partidos políticos estavam em uma ponta da sociedade e o movimento popular em outra. A guerra civil campeou até o auto-golpe de Fujimori em 1992.

Qualquer semelhança com o PT dos anos ’90 não é mera coincidência. A diferença está no sucesso da proposta. A IU não ganhou uma eleição para presidente e Lula sim. Quando assumem o governo, o sistema de secretariado-executivo, aos moldes de um partido político satélite da antiga União Soviética, funcionava às mil maravilhas. Para quem se recorda da primeira metade dos anos ‘80, vai compreender que isto é o oposto do projeto original. Trabalhavam os “sindicalistas autênticos” com a idéia de democracia operária ou popular. Os dirigentes, necessariamente teriam de se revezar entre o mundo do trabalho e o da política, e todos com remuneração modesta. Burocracia permanente e bem remunerada era impensável e execrado. Justo o oposto do que ocorreu.

Trago esta reflexão porque vivemos um momento de espetáculo midiático e ausência de teoria explicativa para o fenômeno da corrupção de esquerda. Particularmente entendo que os corruptores e corrompidos deveriam amargar uma punição exemplar. Não somente penalidades legais, mas um rigoroso julgamento moral do grosso dos militantes populares do Brasil. Ou reinventamos a forma de fazer política no país, ou veremos a corrupção e o descontrole dos políticos profissionais como norma e não a exceção.

Artigo originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat






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