O tema da nota desta semana volta para a crítica da mídia, em especial da mídia do pago, àquela que propala a quatro ventos a incompetência do Estado para regular qualquer coisa em sociedade. O Estado, em especial os fundos do Tesouro Nacional, não serviria para uma política distributivista. A verdade conceitual difundidada pelos veículos de comunicação com capacidade de síntese da sociedade brasileira, é a de que os entes estatais são apenas “geradores de gastos”.
Esta é uma falsa verdade, uma dentre várias. No caso específico da “indústria” que planta árvores exógenas, espécimes estranhas aos nossos Biomas, em especial ao Bioma Pampa, tem um dado oficial que se torna lateral e é o foco da compreensão de como o núcleo de entrevero de investimento e poder se comporta. Vale notar que a Aracruz se especializa em atacar Biomas originais e a população nativa.
Entendo que a composição acionária e a fonte de financiamento das papeleiras, assim como de toda e qualquer grande empresa, deve ser o foco de uma pauta “econômica”. Afinal o eixo de um processo produtivo passa por uma cadeia de comandos e controles. Se isso é conceitualmente correto e estrutura a formação de mentalidades e ideologias, porque a “cobertura especializada”, justo àquela que nem sequer finge que dá o contraditório, não expõe os pilares do pensamento?!
Vejamos esta manchete do Jornal do Comércio, página 14, 4ª, 16 de abril de 2008:
“Ampliação da Aracruz inicia-se em julho”. No meio desta mesma página constam alguns dados, fornecidos pela própria Aracruz, logo abaixo de uma foto das instalações da gloriosa joint venture financiada com o dinheiro alheio. Isto porque, no quadro A ampliação, está assim a disposição dos dados:
Investimento total............................................. US$ 2,8 bilhões (aproximadamente RS$ 5,6 bi)
Origem dos recursos
BNDES......................................... 60%
Capital Próprio.............................. 40%
Daí se nota o óbvio da obviedade com o perdão da redundância. Isto é o saque dos recursos públicos, capitalizados pela Receita Federal, destinados ao Tesouro Nacional e daí vão para o BNDES. Não raro, o banco de desenvolvimento toma emprestado recursos e dinheiro do Tesouro para emprestar “a fundo perdido”.
Para demonstrar o absurdo, vou reproduzir aqui o texto oficial da página da Aracruz, na seção acionistas:
“Acionistas
O controle acionário da Aracruz é exercido pelos grupos Safra (28%), Lorentzen (28%) e Votorantim (28% - participação adquirida da Mondi em 4 de outubro de 2001) e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES (12,5%). As ações preferenciais da empresa são negociadas nas Bolsas de Valores de São Paulo, Nova York e Madri. Até 1995 a Aracruz era a única empresa brasileira a ter ações negociadas na Bolsa de Nova York.”
Assim, o BNDES que já entra com 12,5% do capital da joint venture, sente o ataque dos cofres e financia a expansão de Guaíba. VCP, os sueco-noruegueses da Lorentzen e os financistas do Safra fazem o rateio e a União banca a parte gorda da fatura.
Em tempos de ataque ao Estado, ataque à regulação social através do ente comum, cabe a este ente não regular nada a e financiar a tudo! Isto é um fato jornalístico e um mote de polêmica e debate conceitual – em termos estruturais – em qualquer lugar do mundo. Na Província do Eucalipto, e sendo muito franco intelectualmente, quase toda a mídia econômica, dita especializada, se especializa na defesa do uso e abuso dos recursos comuns para fins privados e na maioria das vezes, anti-nacionais.
Esta Nota foi originalmente publicada no portal de Claudemir Pereira.