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ISSN 0033-1983
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“Reestruturação produtiva” e crise de modelo político-sindical


O exercício direto do poder destes trabalhadores passa bem longe da urna e do modelo de representação através de políticos profissionais. Ainda que as lideranças sindicais não o saibam, as diretorias das transnacionais trabalham, e bem, com este conceito.



Durante anos, a classe trabalhadora brasileira sonhara em ter um ministro de Estado. Especificamente um ministro do Trabalho, alguém que saísse de suas fileiras, pessoa com origem e identidade de classe; apostando que a forma como alguém se vê no mundo e diante do espelho, refletisse sua forma de atuar e os compromissos traçados.

Perante a correlação de forças operando no interior do sindicalismo e nas câmaras setoriais, tal identidade hoje mais contêm do que favorece uma posição de defesa da classe. A reestruturação produtiva da Volkswagen, que ocorre em termos globais, veio justamente bater em São Bernardo do Campo. Por ironia da história, as escolhas feitas no 1º de maio de 1980, em Vila Sônia, São Paulo, refletem-se agora, na ausência de exercício de poder operário mesmo tendo um operário ocupando o mais alto posto do país.

Embora, por milagre da pressão eleitoral, O BNDES venha se comportando com boas declarações, a verdade da peleia passa longe dos corredores. O chão de fábrica elege um operário para o Planalto e perde paulatinamente sua capacidade de pressão. Dependesse dos votos dos metalúrgicos e Luiz Inácio apontaria uma outra saída e posição. Como tem um vínculo direto com os mais pobres, embreta os setores organizados da classe trabalhadora, impedindo assim qualquer chance de frente de classe, entre excluídos e trabalhadores formais.

Quando se hipoteca o objetivo estratégico original, no caso do PT e da CUT, deixando de lado um reformismo radical que talvez pudesse levar a um tensionamento e fratura da sociedade de classes no Brasil (a ex. do programa de 1989), o que sobra é a retórica, e vazia. Obtida a capacidade de se comunicar com a massa e negociar com quem manda, a luta de classes e popular fica relegada a um segundo e terceiro plano.

A Volks e a Anfavea, através da capacidade de seus dirigentes – que ao contrário dos dirigentes sindicais, digo, em sua maioria – são bons operacionalmente e tem lealdade de classe (a deles), vão abrir a porteira com a demissão de 1800 trabalhadores. Contra a parede, uma saída de mal menor, a partir de uma suposta “flexibilização da greve” (a genialidade do marketing econômico atinge em cheio o fígado cirrótico com neologismos absurdos!), põe nas cordas todos os trabalhadores do setor privado no Brasil. Diante da ilegalidade plena por parte dos dirigentes da transnacional de matriz alemã, a meta era outra.

Crescimento de 0,5% e uma derrota vergonhosa para a classe trabalhadora. Mas, segundo Luiz Marinho, a culpa é do IBGE que mente e omite os números. Os fundos contidos no FGTAS, no FAT, no próprio empréstimo de quase 500 milhões que seriam liberados pelo BNDES, seria o suficiente para gerir ao menos a fábrica de São Bernardo do Campo sob controle operário.

Fica a pergunta: Se as transnacionais não têm limites, quais são os limites para a traição de classe?!

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