Uma das grandes dificuldades das esquerdas latino-americanas, e em especial das esquerdas que tem diálogo e intenção perante as academias do Continente, é poder armar um discurso generalizante. A cada lugar que temos oportunidade ir, seja a trabalho ou por outros compromissos, tanto na América hispano hablante como na luso-brasileira, notam-se a elementos ocultos da formação histórica do povo e de seu lugar.
No caso alagoano, verifiquei o mesmo. É certo que hoje o estado e território está mal afamado pelas condutas políticas de nobres operadores econômicos-midáticos-parlamentares como Renan e Olavo Calheiros, Fernando Collor de Mello, o finado PC Farias, João Lyra, dentre outros, pouco ou nada é reconhecido nos outros 26 Brasis que debaixo das cores dos Orleans e Bragança sobrevivem.
Se mirarmos para a história social do povo destes lugares outrora partícipes da Confederação do Equador e berço da gestação do Poder Quilombola, veremos que as raízes são opostas das práticas políticas das oligarquias atuais.
Digo isso pelo assombro ao deparar-me com o livro de Dirceu Lindoso, “A Utopia Armada”, rebeliões nas Matas do Tombo Real (edUFAL, cuja primeira edição é de 1983) datadas estas revoltas entre os anos de 1832 e 1836 e depois com menor intensidade até 1850. Apelidadas pela Regência à época de “Cabanada Selvagem” operaram em um território de 300 km de extensão e 60 km de largura,m no que hoje corresponde ao sul de Pernambuco e o norte de Alagoas.
A descrição sobre a mesma, a primeira encontrada como registro, segundo o autor, data de 1844, onde o registro aponta aos cabanos como matilhas de feras selvagens. Memória indesejada, história encarcerada. Qualquer semelhança com o incêndio nos arquivos da escravidão brasileira, promovida pelo jurista Rui Barbosa não é nenhuma coincidência.
Memória olvidada, rebeldia latente incompreendida. Até quando?