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Espionagem, a vantagem não negociável

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Valerie Plame era analista e operadora de campo da CIA no Iraque encarregada de averiguar e evacuar enlaces no território inimigo, seu marido, o ex-diplomata Joe Wilson, teve como missão medir as reais ameaças de armas químicas do regime de Saddam. O resultado foi a perseguição contra Wilson e a exposição pública da agente de inteligência dos EUA. O affaire Plame-Wilson inauguram a nova era de ex-espiões em contra o Pentágono e o Departamento de Estado.

Bruno Lima Rocha, para o Jornalismo B, primeira quinzena de novembro de 2013 

 

Pela primeira vez após o 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos da América (EUA) se encontram emparedados diante do ocidente, para operar como guardião desta forma de vida contra os“sarracena”. O Império é detentor de uma superioridade militar infinita diante de aliados e possíveis concorrentes. Tamanho é o complexo industrial-militar-eletrônico que bastam poucas deserções para expor tal gigantismo e suas debilidades.

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A partir da deserção de Edward Snowden, um analista de informática e decodificador terceirizado da National Security Agency (NSA), ficou descortinado para a opinião pública o senso comum entre os especialistas. Para quem entende minimamente de espionagem e realismo das Relações Internacionais (RIs), sabe que a superioridade da superpotência vitoriosa na Guerra Fria é quase absoluta em termos de vigilância eletrônica. O que houve, agora com Snowden, antes com Bradley Manning (analista de inteligência do Exército dos EUA que operara no Iraque e Afeganistão), Valerie Plame (agente da CIA, especializada em armas de destruição em massa e que fora exposta ao público no governo Bush Jr.), é parte do jogo. Como diria Graham Greene, o chamado fator humano, por vezes o limite das convicções ou os conflitos internos de cada operador, podem gerar a motivação discordante, gerando a dissidência.  

 

A diferença da situação do atual desertor Snowden para os anteriores, Plame e Manning, é abissal. Bradley está preso por haver vazado mais de 700.000 documentos secretos para o portal Wikileaks, coordenado pelo australiano Julian Assange, outro inimigo do Império em tempos de internet. Plame circula com desenvoltura nos EUA, virou enredo e argumento de um bom filme feito por Hollywwod e hoje é fonte permanente de meios de comunicação como CNN ou programas de humor político como o do democrata Bill Maher (HBO). Edward está numa condição especial, exilado na Rússia com renovadas pretensões imperiais, empregado de um portal de relacionamentos dentro do território soberano do czar Vladimir Putin e vazando sistematicamente relatórios de inteligência para o jornal britânico The Guardian.

 

Nos últimos meses, o mundo foi informado e os especialistas constataram o grampo no celular da primeira ministra alemã Ângela Merkel; escutas na reunião secreta do Conclave do Vaticano; aberturas dos emails privados da presidente brasileira Dilma Rousseff, dentre outras violações. A alegação é a insegurança global diante das redes integristas sunitas – as mesmas retroalimentadas pela Arábia Saudita, aliada dos EUA desde 1945 – mas as razões são outras. A primeira é que o gigante tem fome, acumulando dados e conversas e os classifica segundo a prioridade da política externa do Império, seja esta comercial ou bélica. A segunda razão é o fator antecipação. Os Estados Unidos têm como vantagem estratégica em qualquer âmbito das RIs o poder de antecipar-se aos demais agentes, não importando sua grandeza ou área de interesses. Para a Casa Branca, tal vantagem é inegociável.

 

Este texto foi originalmente publicado no quinzenal impresso e editado por Alexandre Heubrich






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