O momento vivido pelo rigor da lei eleitoral denota o sentimento de vigilância da sociedade perante a classe política. Margens estritas visam restringir a propaganda eleitoral, e ao mesmo tempo, diminuem a capacidade de cobertura da mídia na campanha. Mas, não devemos nos enganar; a subordinação à norma é uma contingência fruto dos escândalos sucessivos. Os candidatos e seus consorciados, longe de estarem convencidos, suspiram vendo o tempo passar, buscando algum jeito de driblar o pouco coerente e bastante casuísta TSE.
As turbulências do ano passado entraram 2006 por via das sanguessugas. Sempre há que se perguntar, se as sucessivas investigações judiciais tendo como alvo esquemas de parlamentares, ocorressem em algum país andino ou platense?! Possivelmente, dependendo da capacidade anímica da população e das forças sociais impulsionadoras da luta, o governo cairia, ou a legislatura, ou quem sabe o próprio sistema político afundaria. Sobre seus escombros, arremedos e costuras do que restara de partidos tradicionais e o surgimento de novos atores políticos individuais. O MAS boliviano é um caso disso, o próprio fenômeno Chávez não escapa da crise do Pacto de Punto Fijo e a oligarquia porteña teve seu canto de cisne com a ruína da Alianza.
Mas, como não nos cansamos de dizer, há uma espécie de cordão de isolamento, cercando-nos do despertar do berço esplêndido. Isto não tem relação alguma com a busca de uma definição pejorativa do “caráter nacional”, sendo mais uma operação de bloqueio político identitário – sobrevalorizado pela ação do oligopólio e seus pacotes de “mídia” – do que necessariamente a disposição geográfica do Brasil.
Como padecemos desse bloqueio, somados a uma visão mais moral que classista da esquerda, a autenticidade passa antes pelo civismo do que na luta popular. Por mais capacidade de indignação que tenha a alagoana, a senadora Heloisa Helena comporta-se como republicana e nacional-desenvolvimentista autêntica. Passa longe, mas anos luz de distância de algum projeto de fundo rupturista e capaz de encantar ao que existe de povo organizado. Se esta estrutura não fosse sistêmica e sim episódica e cheia das “brechas”, seria até possível algum apoio crítico. Considerando os exemplos e análises da realidade, partindo mesmo dos próprios fatos difundidos pela grande mídia, tamanho buraco não será preenchido por um voto indignado na urna digital.
Como dizem há décadas, o buraco é muito mais embaixo, profundo e lodoso. Para meter a mão nele, o horário eleitoral gratuito de pouco ou nada serve.