Bruno Lima Rocha
4ª, 16 de julho de 2008, Vila Setembrina dos Farrapos trocados pelo preço do charque; Continente da Província do Eucalipto; Liga Federal de los Pueblos Libres y no de los soyeros
A Operação Satiagraha, encabeçada pelo delegado federal Protógenes Queiroz, aponta uma crise institucional incipiente. Tudo porque as estruturas de poder brasileira não convivem tranquilamente com a possibilidade de punir a sua própria elite.
Através de breve leitura do noticiário podemos ver o tamanho do problema. Basta observar: a equipe da operação atuou bem apesar de parte da direção da Polícia Federal estar em contra; esta equipe requisitou a ajuda de agentes da ABIN por fora dos mecanismos formais; o presidente do STF, Gilmar Mendes, é contestado por seus pares sendo que até uma chance de impedimento paira sobre sua cabeça; o chefe de Gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, fala com naturalidade com um ex-parlamentar a respeito de possível operação de vigilância sobre um alvo de investigação federal; vários congressistas se manifestaram de forma indignada contra o uso de algemas e a pirotecnia pela PF, mas nada pronunciaram quanto ao volume de divisas que evadiram do país. Poderia listar outras dezenas de choques e contradições dentro dos poderes da república, mas os casos acima ilustram o suficiente.
Ao contrário de outros analistas, vejo estes momentos como benéficos. É uma pena que o país não aproveita as situações limite para fazer uma lavagem intestinal. Em outros países latino-americanos, como na vizinha Argentina, a exposição pública das investigações possibilitou o choque necessário para a contestação de um modelo econômico que aposta no descontrole quase total dos grandes operadores político-financeiros. Qualquer agente econômico fora de vigilância fará de tudo para maximizar ganhos e diminuir perdas. Muitas vezes, ultrapassam qualquer limite.
Nenhuma Satiagraha seria necessária se a Operação Chacal, cujos alvos, dentre outros, eram o Banco Opportunity e a empresa de investigação Kroll Associates, tivesse levado a um julgamento conclusivo. Infelizmente de 2004 para cá muita água rolou debaixo da ponte. Nada efetivo o bastante para diminuir o descontrole na disputa corporativa dentro de um jogo sem regras.
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat