Bruno Lima Rocha, para o Jornalismo B, 2ª quinzena de set.2013
A guerra civil na Síria e a conseqüente ameaça da superpotência de atacar a fração de território ainda sob controle da aliança de suporte do governo Assad proporcionou para o Kremlin uma oportunidade única. No início da chamada Primavera Árabe e a escalada de conflitos no interior de países governador por regimes e déspotas autocráticos, a Rússia se mantinha distante da região, deixando o Oriente Médio, Península Arábica e Ásia Central sob o “controle” dos Estados Unidos e seu único aliado incondicional, Israel.
Os problemas relativos do governo de Vladimir Putin concentravam-se na região do Cáucaso, especificamente com os chamados chechenos étnicos, hegemonizados pelo integrismo vinculado a Al-Qaeda. A ameaça contra o regime na Síria e sua composição de governo alauíta liderado pelo clã Assad, com membros dirigentes do Partido Baath (uma facção político-militar laica) e apoiado por cerca de 35% dos grupos minoritários do país colocaram o antigo Império Czarista diante de uma encruzilhada. Ou se punham no meio do conflito, servindo de anteparo para as ações praticamente unilaterais dos EUA, ou se focava totalmente na retomada da hegemonia na Europa do Leste, avançando sua área de influência sobre a Europa Central e projetando a Gazprom através do gasoduto Nord Stream, no Mar Báltico.
Se o gabinete de Putin abandonasse seu último aliado no Oriente Médio à própria sorte, abriria mão da derradeira base naval no Mediterrâneo (precisamente no Mar Egeu), localizada no porto de Tartus, segundo em importância na Síria. Quando uma parte da 6ª frota da Marinha dos EUA posicionou-se para bombardear as instalações de Bashir El-Assad através do lançamento de mísseis Tomahawks, os vasos de guerra russos navegaram de encontro, em manobra dissuasória.
Para além da manobra naval, a Rússia ameaçou não reconheceu a responsabilidade de Assad como autor do crime de guerra no uso de gás contra a população do subúrbio de Damasco. Levantando suspeitas sobre a Arábia Saudita (como financiadora da arma química), ameaçou retalhar a dinastia dos Saud, aliados dos EUA e sócios da família Bush. Em paralelo, avançou na ação diplomática, buscando uma solução multilateral através do fortalecimento do Conselho de Segurança da ONU onde o país tem poder de veto.
O avanço russo é concomitante a hesitação da Casa Branca, carecendo de apoio do Congresso para o ataque e com rejeição da opinião pública. Os dois aliados militares dos Estados Unidos na Europa/OTAN, França e Inglaterra, foram reposicionando-se à medida em que parlamentos e vontade expressa dos eleitores diziam-se contra uma possível ação de bombardeio contra a Síria.
O cheque mate contra os EUA veio logo após a realização da reunião do G-20, em São Petesburgo, no início de setembro 2013. Quando o regime sírio aceitou a solução russa, de entregar seu arsenal químico para a salvaguarda da ONU, a Rússia avançou no Sistema Internacional, como o único país do globo com reais condições de conter intenções da superpotência.