Bruno Lima Rocha
Passados já 30 dias do estouro da tal bolha imobiliária, a “crise segue sem fim”, abalando os critérios de confiança no sistema financeiro e bancário! Bem, chavões à parte, é necessário compreender parte das relações estruturais que definham da jogatina no cassino do dinheiro que em tese não existe, mas faz muita falta.
A primeira noção é a de “alavancagem”. No Brasil de Lula e Henrique Meirelles, uma instituição bancária pode ter “alavancada” sua capacidade de crédito em até 10 vezes o patrimônio líquido. Já nos EUA de Bush Jr.; Henry Paulson; Condoleezza Rice; Dick Cheney e Cia. a especulação com o crédito pode ser até 35 vezes o patrimônio dos bancos. Vamos entender como a coisa funciona, apenas neste aspecto.
O Banco A empresta dinheiro a juros, cujas taxas são marcadas por um “administrador” do sistema financeiro chamado Banco Central, para 10 clientes. O Banco não tem o dinheiro para repor o que emprestou caso seus correntistas queiram resgatar o valor lá depositado. Ou seja, se os titulares de contas bancárias, sejam pessoas físicas ou jurídicas, queiram retirar o dinheiro do banco, este mesmo:
“banco = depósito de dinheiro alheio”, não terá como devolver aquilo que lá estava depositado.
Uma conseqüência direta do crédito podre é essa. O Banco A empresta dinheiro para 10 Clientes Sem Condição de Pagar. Os Executivos desse Banco A, que ordenaram o tipo de operação de empréstimo podre, receberam bônus pelo volume de operação. Os grandes acionistas desse Banco A também receberam pela leva de empréstimos podres. As ações desse Banco A, movidas por uma ou duas ou três mega corretoras - como a rainha da estafa Merril Lynch - também lucraram no vende-compra-vende das ações de tipo nominal e preferencial da instituição “sólida”.
No momento em que as operações de crédito podre, que repito nos EUA de Bush Jr. formaram o colchão dos “bancos de investimento”, mas também dos bancos de tipo comercial, se espalharam pelo mundo, os “ativos contaminados” poluem a credibilidade dos correntistas em ter a garantia que seu dinheiro esteja lá ainda. Quem deposita o dinheiro em contas correntes ou cadernetas de poupança tenta sacar o máximo possível no menor tempo. Os governos bloqueiam os saques, mas “sinalizam” para o “mercado” e os contribuintes que irá garantir os depósitos. Até o momento de escrever este curto artigo, a garantia de depósito nos EUA era de até US$ 250 mil dólares e na Europa de até 50 mil Euros. Os depósitos legais além dessa quantia não estão garantidos pelo seguro do Estado. Quem os cobre?
Se o socorro é para os bancos e não para os correntistas, é porque a Banca será preservada. Se a Banca não tem como cobrir os depósitos porque tem calote na praça e tem empréstimos acima de sua capacidade de saldo, então os operadores desta Banca são os responsáveis. Seja por gestão temerária, seja por roubo e saque puro e simples. Para garantir os depósitos bancários, a medida correta no sentido de Justiça, é a expropriação do patrimônio pessoal dos ganhadores de bônus como “tubarões do mercado financeiro”. No sentido real do drama, os metalúrgicos aposentados de Detroit deveriam cobrar também da fortuna pessoal do ex-presidente do Goldman Sachs, não por acaso o Secretário do Tesouro, Henry M. Paulson, um dos grandes responsáveis pela própria crise. Se houver a “iliquidez” no Brasil e os bancos que governam com Lula desde 1º de janeiro de 2003 alegarem não poder cobrir os depósitos bancários, os correntistas devem cobrar também do patrimônio pessoal do presidente do Banco Central, o tucano Henrique Meirelles, não por acaso ex-presidente mundial do Bank of Boston.
Um mero exemplo de como funciona a proximidade e a vizinhança entre os corsários financistas. Apenas 3 anos após Meirelles assumir o governo do Brasil, o Itaú em 2006 compra toda máquina do BankBoston atuando no país. O segundo maior banco do Brasil de Armínio Fraga e Pedro Malan compra o ex-banco do presidente do Banco Central do controlador desta instituição. Quem controla o BankBoston é o Bank of America, que no dia 15 de setembro comprara a Merrill Lynch pela bagatela de US$ 50 bilhões. A mega corretora que fez “alavancagem” absurda e também não teve como cobrir seus compromissos.
A exuberância irracional dos mercados, como fala Alan Greenspan, nada mais é do que o limite do risco moral, jogando de forma absurda com o futuro das sociedades concretas. Quando o estágio é terminal, aí entra o Estado, não para punir o crime financeiro, mas para “acalmar os nervos” dos mercados. Nada no sistema financeiro é por acaso.